Nei Duclós
Eu apenas imagino, fina chuva de
orvalho.
Falamos a mesma linguagem. O sorriso,
quando estamos no auge.
Pegue o que te espera há tempos, sem
ceder um momento.
Escolhi a cor creme, feita de seda.
Havia ondulações, como se houvesse praia e tudo fosse abaixo, até o tornozelo.
Se gosta, diga. Mesmo que seja em
silêncio. Eu capturo cheiros.
Provei você antes do tempo. Melhor
assim, enigma permanente.
Estás pronta para o bote. Depois não
finja inocência.
O mundo te esquece, mas eu lembro.
Estou sempre prestando atenção na curva do teu joelho.
Não sei se, ao me querer, devo
agarrar-te. Pode ser que haja jogo, um talvez sigiloso.
Perca esse ar de quem começa. Há
tempos és minha promessa.
Cada ponto da tua pele eu beijo. E
uno com meu lápis, a língua que te canta.
Tentei esconder o presente, mas
descobriste. Arrancaste do meu bolso a renda que escolhi a dedo e embrulhei
como se fosse um crime.
Não tenho piedade quando estás
entregue. Me prevaleço, sou tua vantagem.
Foges porque me repito. Vou compor
uma valsa, então, para amassar teu vestido.
Já fui tarde. Agora sou boca da
noite. Passe o batom, como um açoite.
Fantasia não nos diz respeito. Diz
beijo longo, mão no peito.
Pingas o fogo que me janta. Depois é
doce, o tempo todo.
Aceitei o exílio por um longo tempo.
Depois me anistiei e voltei ao amor, minha pátria.
Tens outro ritmo, outro compasso.
Quando desisto, me abates. Quando retorno, me escapas.
Não escondo nada, não falo por
charadas. Apenas evito o que se define em outro plano. Corpo é paralelo à
palavra.
RETORNO – Imagem desta edição: Naomi
Watts.