Nei Duclós
Fiz um verso para teu caderno.
Copiaste em caligrafia de pétalas.
Durmo com as palavras, que sopram
imagens. Acordo e todas viraram cinema.
Verão é quando a verdade extrapola. Primavera é quando a verdade vem antes.
Inverno é quando a verdade hiberna. Outono é quando não há verdade.
Somos um a tampa do outro, caixinha
de jóias.
É justo que seja em camadas. Cada
fase acusa o estrago. O suspiro, por mais fundo, não expressa a dimensão do
rastro.
O que dizes de doçura está guardado.
Quando vier o adeus eu solto como último recurso.
Lua cheia existe só para dizer quem
manda.
Te trouxe flores vermelhas, da cor
do teu desejo. Abraça-me forte. Quero sentir como te desmanchas.
Contraímos o verão precocemente. Mas
isso passa quando chegarem ás águas de janeiro.
Éramos diferentes. Sonhávamos um com
o outro sem ainda os corpos terem chegado a um acordo.
Ponho as mãos em teu rosto só para
ver como fechas os olhos.
Chegas no campo isolado pela mágica
da Criação. Teu coração fica exausto de tanto querer.
Teu lábio tem a consistência do
delírio, se delírio fosse mensurável em fibras e não apenas vento.
Estamos perto, mas algo nos leva.
Vemos se afastar o que nos torna mágicos. Grude essa cena no mural da memória
As montanhas verdes meditam o
amanhecer tranquilo. Alma que nos habita, irmã de eternidades.
O leste irrompeu em luz clara,
jogando pedaços de nuvens para encantar o azul sem mácula.
Estive perdido no deserto. Me
achaste, nômade de jade.
Bebo o que tens de sobra para que
não falte o alimento da tua pele.
Todos os
dias tiro do poço o balde cheio da tua sede.
Agora que pedi perdão aceito que
voltes.
Falei saudade para não dizer a
verdade: a falta que faz a profundeza da tua entrega.
RETORNO - Imagem desta edição: Megan Fox.