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2 de setembro de 2012

DIGA



Nei Duclós
 

Passei o dia sozinho, conversando contigo. Cavas distância, amor infinito.

Livre-se da armadilha. Diga que me ama.

Olhas de lado para o Tempo, que se esconde, mas contigo se entrega, como alguém que ama de longe.

Fico confuso e desisto. Pego o trem para o limbo.

Estás ferida de amor, espinho. É choro o amor que sangra, pétala.

Esqueça o que te digo. Fique apenas com o que sinto.

Te quero mas não digo. Te digo quando quero.

Tua falsa dúvida é um poço que me esvazia. Peça um beijo, mas não finja

Hoje é sábado, tens uma cota de algumas horas para amar. Depois volte ao normal passando por mim com ar de janela fechada.

Não podemos dizer tudo. Onde está a compostura? O certo é ficar mudo, como o sol em teu vestido.

Não sou gato de rua. Sou o urso que temias. Hiberno quando te espio. Desperto se vier a Lua.

O que eu digo é segredo, charada de poema. Só nós temos a chave

Somos em peças, como as casas antigas. Algumas dão para a varanda, outras para a rua. Quartos nos acomodam, salas nos espiam. Choramos na cozinha, rimos no chuveiro. Somos em partes, sob um teto. Nosso amor nos chama, na poltrona.

Amor é na hora. Como na entrega. Sentiu, pousou, beleza.

Não vou falar mais nada. Meto os pés pelas mãos. Preciso aprender com teus silêncios de fada.

Arrependida do que dizes quando o falha o norte? É normal quando o amor explícito não se entrega.


RETORNO – Imagem desta edição: Ann-Margret.