Nei Duclós
Passei o dia sozinho, conversando contigo. Cavas distância,
amor infinito.
Livre-se da armadilha. Diga que me
ama.
Olhas de lado para o Tempo, que se esconde, mas contigo se
entrega, como alguém que ama de longe.
Fico confuso e desisto. Pego o trem
para o limbo.
Estás ferida de amor, espinho. É
choro o amor que sangra, pétala.
Esqueça o que te digo. Fique apenas com o que sinto.
Te quero mas não digo. Te digo quando quero.
Tua falsa dúvida é um poço que me
esvazia. Peça um beijo, mas não finja
Hoje é sábado, tens uma cota de
algumas horas para amar. Depois volte ao normal passando por mim com ar de
janela fechada.
Não podemos dizer tudo. Onde está a
compostura? O certo é ficar mudo, como o sol em teu vestido.
Não sou gato de rua. Sou o urso que
temias. Hiberno quando te espio. Desperto se vier a Lua.
O que eu digo é segredo, charada de
poema. Só nós temos a chave
Somos em peças, como as casas
antigas. Algumas dão para a varanda, outras para a rua. Quartos nos acomodam,
salas nos espiam. Choramos na cozinha, rimos no chuveiro. Somos em partes, sob
um teto. Nosso amor nos chama, na poltrona.
Amor é na hora. Como na entrega.
Sentiu, pousou, beleza.
Não vou falar mais nada. Meto os pés
pelas mãos. Preciso aprender com teus silêncios de fada.
Arrependida do que dizes quando o
falha o norte? É normal quando o amor explícito não se entrega.
RETORNO – Imagem desta edição: Ann-Margret.