Nei Duclós
Amor é obrigatório, nem precisa de discurso. Basta tua perna
bamba antes que eu abra a boca.
Já vi que me negaceias como alguém em plena luta. Entro
suado no ringue para ceder o nocaute.
Te procurei pela ordem, mas não estavas no índice. Te achei
perdida nas margens com teu olhar de lince.
Arrisquei a minha sorte nas dobras do teu vestido. Puxei
depois pela linha o que cobria o umbigo. Perdias a compostura desencadeando o
teu riso.
Cheiravas nossa alegria antes de haver xeque mate. Derrubas
meus contrafortes com tua pose de rainha.
É doce viver imerso nas bobagens da minha arte. Mergulhas o
olhar de febre na comoção deste verso.
Gostaste, tesão imenso, deste final de tarde? Agarrei tua
cintura com vários golpes de mestre.
MORADA
Amor que brilha sem que me diga nada, faça do teu silêncio a
minha morada.
Não me respondes. Desse jeito não há pergunta.
Pedi auxílio ao sol para localizar a Lua no crepúsculo. Mas
era cedo. O vestido da noite ainda não estava pronto.
Dobras o corpo me olhando deixando que eu note uma parte do
que me encanta mais em ti: tua vontade de ver o que tenho dentro.
O que se destaca é a boca, intensa em sua capitulação diante
do desejo.
É perigoso me olhar assim com esse olhar preto de luz sem
fundo. Sou capaz de me avançar em teu corpo perfeito.
Me deixaste por um tempo. Fingi não notar. Agora que
voltaste, sou capaz de tudo.
Palavras te deixam nua, se consentires leitura.
RETORNO – Imagem desta edição: Hilary Swank.