Nei Duclós
A palavra precisa de coragem, assim como o coração, de
silêncio
Não se iluda. Não pense que escapas só porque me
desmascaras. Em cada camada vejo a Lua.
Vocês ficam de lado, nos dizem sempre. É quando aproveitamos
para nos conhecer.
Qual é a senha? nos perguntam na guerra. Amor, respondemos
inapelavelmente.
Inflei o balão do sonho. Fui te buscar, abandono.
Eu estava perto, estava chegando. Ai escorregaste, seda sem
dono.
Volte à tona, portento. O céu está a pleno, tanto no outono,
quanto na Crescente.
Estava por te salvar, quando cedeste. Nem precisou meu
gesto. Tinhas a semente germinando em tua sorte. Ainda me darás abrigo, meu
norte.
Quando crescer, quero ter crescido. Quando morrer, quero ter
vivido. Quando viver, quero estar contigo.
Agredir para demonstrar liberdade é o sintoma mais explícito
do laço. Estás perdida, viagem.
OÁSIS
Somos todas as pessoas, acima do namoro, dentro de uma nova
cultura, a do sonho que se realiza na palavra intensa e em avalanche como contraponto
à ruina.
Precisamos abandonar a percepção antiga de que dizer com
todas as letras o que vai no coração em abandono seja algo feio, suspeito de
ser uma facilidade bruta. É uma felicidade construída, que pode ser plena,
pois, arrasados, tivemos de recompor cada nota desta sinfonia.
A beleza é um privilégio que merece todos os castigos de
quem almeja tê-la em seus braços de areia. Nós, os escassos admiradores do
espelho, os que cruzam o espaço proibido do beijo numa deusa.
Desistir de lutar pela beleza, seja ela quem for e o que
aparenta, por medo ou vergonha: isso sim é feio.
Não se trata da "arte do Belo" como acontecia em
séculos passados. Mas a soma de vivências a favor do que nos torna humanos.
Eu entendo. Esse jogo de cabra cega cansa. Mas tenho fé na
força do verbo, a que inaugura espaços, de todos os tamanhos.
TRÊSPALAVRAS
Liberdade é dividir a esperança no caminho reinventado.
Terra é chegar ao destino que nos gera.
Paz é reconhecer no Outro a chama do gênio e a possibilidade do futuro.
Terra é chegar ao destino que nos gera.
Paz é reconhecer no Outro a chama do gênio e a possibilidade do futuro.
RETORNO – Imagem desta edição: Ava Gardner.