Nei Duclós
Ninguém compreende essa compulsão tamanha. Não é poesia, é
uma espécie de explosão que o amor anuncia.
Não adianta falar sobre o decisivo instante. Quando te
entregas para sempre. O gemido é o único recurso do corpo agradecido.
E toda aquela ciranda de conversas e olhares se desmancham
na hora agá, quando o bruto prazer se impõe, súbita aparição no bosque de
lavandas.
É como um bate estacas no peito a véspera do esparramo. O
coração atropela a piração trêmula. Os tímpanos não aguentam.
Nem sentiste o deslizamento das rendas quando houve o
momento. Tudo fluiu e quando nos demos conta estávamos mortos. E havia um
entardecer arrasador rompendo a janela.
Quando acontece, nos perguntamos: o que estávamos esperando?
Parece óbvio, mas é esse algoritmo sem piedade chamado destino.
Perdemos a noção mas, anos mais tarde, um aperto de mão nos
levou para a cama. Quando amanheceu, estávamos de olho parado no teto.
Não dou vencimento da vontade que eu tenho. Nem tente passar
por perto. É tiro certo.
Já somos maduros o suficiente. Pare de chorar, que eu paro
de morrer.
Não faço para que me queiras. Faço porque te quero.
Fui deixado de lado porque tinhas outras preferências. Não
fiquei ressentido. Encontrei outro caminho. Por isso te escrevo aqui dessa
cabana de gelo perdido no ermo absoluto: estás agora disponível para mim,
inesquecível?
Quando me preparei, você não veio. Agora que estou à margem,
surges toda vestida de fim-de-semana, como se eu pudesse sair sem lembrar o
abandono. Mas tudo bem, onde é o programa?
Seria dispensável a palavra habitada para o bote. Mas
insistimos em não ler os gestos, então falamos. Tire para dançar e cale-se.
O boca a boca te devolve o ar.
Não nos permitimos o que se impunha há tempos. Por isso
escrevemos para os duendes. Eles leem e sorriem, os tratantes.
RETORNO – Imagem desta edição: Elizabeth Taylor.