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14 de abril de 2012
MÃOS
Nei Duclós
O melhor do dia foi quando segurei tuas mãos.
Vou ficar ao teu redor. Te localizo pelo cheiro, que exalas em pensamento.
É preciso que algo sempre aconteça para que possamos deitar com a lembrança de uma chance. Quando te flagrei me olhando, por exemplo, no meio de uma tormenta.
O que mais me encanta é o calor que mina tua postura, sem derrubá-la. Ficas ereta enquanto meu pensamento percorre o que me entregas pelo olhar que sonha.
Fui acordado pela possibilidade do estrago.
Caprichei falando da meia noite. Mas não te impressionas mais. Deitas contando as estrelas cadentes. Só explodindo para perguntares o que faço no teu firmamento.
Me recomende, me disseste no fim do encontro. Deves estar louca. Te esconderei até da Lua Cheia.
Surges de quando em vez, como a cauda do cometa
Elástico nas costas, ruído de rendas, roçar de pernas no desleixo, bolha que estala no lóbulo, resistência ao puxar o cabelo: tudo imaginado antes que venhas.
Na guerra do desejo, curtimos em fronts diferentes. Você na beleza extrema, eu no olhar trêmulo.
Abrimos a cortina do trem em movimento. Pessoas na estação puseram a mão na cabeça. Ríamos, acenando no vagão leito.
Não se constranja. Vai piorar.
Abusas por ter sardas. Isso chega a ser assédio.
Não rimamos. Devemos ser ermos de poesia. Vamos tentar a prosa.
O exagero no batom não foi sinal nem convite, foi consequência da vibração que tomou conta de ti quando o encontro acenou com a esperança de algo além daqueles limites.
Não te entendo, mas não importa. Tudo passa adiante.
O amor é tão pequeno. Parece tu, flor esfarelada do campo.
Anotado, então. Ponho na conta dos beijos não dados.
Vou ficar esperando. O calendário pode amarelar aqui neste quadrante.
Não fuja. Sou invisível. Só apareço quando me queiras.
RETORNO – Imagem desta edição: Myrna Loy.
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