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18 de abril de 2012

BOTÃO


Nei Duclós

Não me pergunte de onde tiro o verso. Ele sai do vento que ondula tua blusa na altura do botão que nunca fechas.

Chegaste cansada e não queres conversa. Decido sair para algum canto. Tocas meu celular, aos prantos.

Me falas de um amor distante. Ficas tão próxima que esqueço teu alvo. Só tua boca dizendo o que sentes conta.

Visto o outono ainda tímido com roupas especiais de crepúsculo: tua lembrança, a marca do teu beijo.

Finges indiferença, rabo de olho.

Clique neste ponto do mapa. É onde me encontro.

Tudo imaginação sua, acorda, ela disse. Saia desse devaneio. Eu existo.

Te persigo com análises cruas de linguagens remotas só para ver teu rosto contrafeito, onde brota uma gota de dúvida. Gosto quando perguntas. Não respondo à altura, mas sinto teu cheiro.


BISTURI


Não fique fazendo bilu bilu para a palavra. Ela é bem crescidinha

Noto que se escreve muito com base na idéia que se faz do romantismo. Perdemos um século nessa história. Tem muita transgressão, da boa, para ser lida.

Entregue para ela um balanço superfaturado. Peça que examine com cuidado. Dê-lhe uma hora. Depois volte, rasgue tudo num beijo sem oxigênio.

É vaidade achar que expondo versos adociados poderemos ser escutados. Um tiro é mais eficiente.

Não "sinta" nada. Use o bisturi no verbo condenado. Estude suas entranhas. Salve-o.

Não se derrame no poema. Depois vai ter que limpar tudo.


Palavra de cama feita estraga o romance. Tente jogá-la no chão. Ela pode gostar.

Sabe os poetas românticos? Escreviam para conquistar moças confinadas em cadeias. Os caras não prestavam. Não pense que eles acreditavam naquela lenga lenga.


RETORNO – Imagem desta edição: obra de William Bouguereau.

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