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18 de março de 2012
VIDRAÇA
Nei Duclós
Estou ocupado. Suspendi todos os compromissos para te esperar.
A vidraça do salão mostra a noite. Vemos a cidade, que não descansa. As luzes concorrem com as estrelas. Há uma chuva de prata em teus olhos de amêndoa.
Conseguiste me tirar da vista? Sou o horizonte que o mar limita.
É tudo fantasia, ou seja, sentimento. Bate coração, que tudo dá no mesmo.
É sábado, o batom é vermelho. Aproxime sua boca na minha orelha. Quero escutar o sussurro do desejo.
Dispense a carruagem, não é de confiança. Cristal é design, mas desconfortável. Enrede-se nas cortinas, que é para lá que te levo.
Está pronta? Vim te buscar para o baile. O som vem do vento nas palavras. O sonho é o virtuose. E a valsa é aquela nossa, lembra?
Fica, disse ela. Tem chocolate no céu da minha boca.
Há uma risada coletiva que cruza o tempo. O perfume vem dos corpos, amenos.
Tinhas que fazer não sei o quê, mas acabaste dormindo no meu colo. Eu precisava sair, mas quem sou eu para contrariar o destino?
Quando o amor enfim dá certo, o poema descansa e fica lendo almanaques antigos.
Já que não voltas, volto eu. Pena que estarei só para me receber.
Sou invisível. Saí do teu convívio.
Sim, comecei cedo. Vou parar. Preciso arrumar os presentes que me deste e que estão espalhados de qualquer jeito.
Não amar é como viagem de turismo de um exilado. Em cada lugar, pulsa o sonho da felicidade perdida.
Vou falar um pouco sobre o que é bom no amor. Preciso de ti para me lembrar.
Depois que te perdi, procurei meu coração no deserto. Tinha virado pedra.
Não precisa passar por aqui. Estou debaixo da tua marquise.
Consoantes são o barro. Vogais, a alma imortal.
RETORNO - Imagem desta edição: Natalie Portman.
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