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22 de março de 2012
TIROTEIO DA PALAVRA
Nei Duclós
O mundo sempre foi uma piada. Só que antes não precisava explicar.
Professor no Brasil está abaixo do piso.
Pisar é não pagar o piso.
Carreta de cem toneladas é jogada longe por triciclo. Está ficando cada vez pior.
Para o bem das pacíficas Mercedez prateadas, todas as perigosas bicicletas deveriam ser recolhidas.
Ciclovias são estradas inexistentes construídas embaixo de ônibus e carrões.
Base aliada é a que favorece a maquiagem.
Sherlock assuntou, assuntou e decidiu: a Chevron é incompetente. Hummm. Brilhante, Holmes!
Como abrimos mão de tudo em favor da lógica, só temos seres racionais em todos os cargos, fazendo misérias. É o elogio da razão corrupta.
Estamos nas mãos de autoridades dedutivas, servas da lógica. Por isso estamos bem. Não admitimos defecção. A lógica até o limite da idiotia.
O país descamba, mas a lógica triunfa. Produzimos dívida, mas faz de conta que produzimos pensamento.
Vazamento tem óleo diferente, diz a Chevron. Antes era soja, agora girassol.
Chevron arrebenta o subsolo do litoral brasileiro e se justifica dizendo que subestimou e superestimou. Importante é o argumento,não o crime
O Brasil é grandão, mas tem pib pequeno.
Use "pouca gente sabe" sempre que concordar com sua superioridade informativa atávica, de berço.
"Ninguém poderia imaginar" também é importante. Só quem usa isso imagina.
Contracampo é quando há gol contra.
Fora do mercado é não ter acesso ao bolinho de bacalhau no balcão.
Quando quiser dizer que é europeu fale a palavra tupiniquim. Ainda cola. Mostra esse nojodieu tão ao gosto da aristocracia fake.
Ping: No me enseñaste como se vive sin ti, de Frank Dominguez (Tu me Acostumbraste,1957). Pong: Você Não Me Ensinou a Te Esquecer, do Caetano.
Armadilha no trabalho é enredar o adversário numa decisão tomada sem o conhecimento dos responsáveis,mentindo que isso todo mundo tá sabendo
Falar ao celular no volante é deslocar a atenção para fora do momento, sinal de que não compartilha com o que o resto está fazendo. Zelite
O Brasil está bem resolvido. Pibinho de 2,7%, indústria sucateada, vilania nos negócios e o assunto xis é a venda de bebidas nos estádios.
É lei: em todo cruzamento complicado se sobressai o energúmeno ao celular mexendo no volante de maneira irresponsável com a mão que sobra.
Industriais brasileiros permitem que os chineses deitem e rolem aqui. Eram tão ferrões, viraram ferrados?
Não existe desaquecimento industrial,mas sucateamento do parque industrial brasileiro. Estamos nos preparando para virar província chinesa.
Indústria trabalha com menos de 50% da capacidade, acumula estoques e fecha postos de trabalho. Foi pras picas mas é a "evolução negativa".
Fazer coro e mirar riscos: o pesadelo da linguagem começa cedo seu estrago na mídia. Não apenas não sabem, como não gostam de escrever.
RETORNO – Imagem desta edição: Sophia Grabner.
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