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15 de março de 2012
PONTOS
Nei Duclós
Inútil disfarçar. Te decifro no olhar. És minha carta de Tarot.
Ela me ensinou os pontos certos do amor. No mapa do corpo usou os suspiros para mostrar onde dói.
A beleza é arte. O amor, o artista.
Na rédea do desejo chegamos a galope na clareira do bosque. O lago era o álibi para o desfecho.
Foi uma ilusão perfeita. Chegamos até ao repouso, mesmo sem ter havido o eito.
Tudo é coadjuvante do sentimento disse ela. Mas também tem direito a Oscar, defendeu-se ele.
Parte interna é o que você sente e não o que você está pensando, disse ela.
É na pele? ele perguntou. É no coração, mas não vais entender, disse ela.
Como começa o arrepio? ele perguntou. Quando o arado do teu rosto cultiva minha espinha dorsal, disse ela.
É como noite de chuva. A Lua existe, mas está oculta. Mesma coisa o sentimento. Brilha, mas ninguém vê através de ti, nuvem.
O que vou ganhar de ti? perguntei. Já te dei, me falou. Não guardei, respondi.
Não temos noção onde estamos quando acordamos. Nosso cheiro, a luz na névoa, o teto branco, enigmas. Desligamos os telefones. Só o coração chama.
Perdi tempo. Fui buscá-lo sem perspectiva de sucesso. Encontrei-o batendo papo com o poema. Garotos de rua, inadimplentes.
É preciso limpar o terreno e deixar fluir o que interessa. Esqueça os ruídos e me aperte.
Você foi o alvo na vigília, aquele momento antes do despertar. Fui bruto. Consentias. Quando tudo se dissipou, ficou o sabor do que me dizias.
Faltam alguns versos para completar o recado, disse para mim mesmo. Espero o anoitecer, soprou o anjo.
Cansei de repartir o poema. Agora só escrevo no teu caderninho.
O tempo virou. O hálito frio do vento vem nos dizer que acabou essa moleza de chinelo e camiseta. Puxe as cobertas. Ontem pus boné de lã
Quantas estações cruzarás com teu silêncio?
Volta, verão, eu estava só brincando.
Fomos longe demais. Quero você de volta.
No estreito corredor entre eu e a parede, você. Tentando passar, mas não consegue.
RETORNO – Imagem desta edição: Patrícia Arquette.
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