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4 de março de 2012
CHARADA
Nei Duclós
Não te quero mais. Não porque não te queira, mas porque não quero mais querer tanto que me queiras.
Nada sabes de mim. Sou texto sem dicionário, poema charada. Respeite quem não cai no teu correio como entrega.
Estou à vista, mas inacessível. Sou penhasco em alto mar, obra de vulcão.
Não me trate como garçom só porque sirvo a palavra numa bandeja.
Não me copie, não me calunie. Não cometa um crime só por capricho.
Nem precisavas do erro. Fizeste de birra, para dividir com o mundo o que era nosso por direito.
Jamais duvide de um cavaleiro. Ele aprendeu cedo. Por não saber amar direito não quer dizer que seja teu brinquedo.
Agora tenho as mãos vazias de amor. O que faço com o acervo de sentimento que acumulamos? Jogo para os cachorros?
Talvez duvidasses da minha verdade. E resolveste atiçar o pânico. Mas vim da guerra, tenho uma cicatriz por todo o corpo, meu encanto.
Por que fez isso se eu te queria tanto? Não foi suficiente os tesouros que compartilhamos?
A maioria é sintonia e sonho. Mas há os ruídos, especialistas em ferir.
Agora, sonho. A cama navega o mar revolto.
SUBSTANTIVO
Um só verbo no amor substantivo. E esse clima de advérbio, de viver supérfluo.
Se soubessem de fato que tudo não passa de armadilha do Tempo, perderiam o pânico da longevidade
A vida é infinita. A paz vem da certeza na eternidade.
Prefiro a beleza, para acordar sem susto.
Tenho dez mil versos na bagagem. Postei para o vento. Mas em cada palavra há o desenho do meu nome.
RETORNO – Imagem desta edição: obra de Steve Hanks.
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