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5 de fevereiro de 2012
PANO
Nei Duclós
Manobramos por baixo do pano. Ninguém nos vê como somos. Mas as bibliotecas do subúrbio, os cafés antigos sobreviventes e os cinemas prestes a serem demolidos são testemunhas.
O amor foi proibido há tempos. Por isso nos damos as mãos só quando nos misturamos às multidões sem rosto. Somos os únicos sorridentes.
Prometi esquecer tudo. O tempo impõe os seus venenos. Mas esse perfume, esse doce gesto no abandono joga um balde de água morna sobre nossos ombros.
Viajaste de uma hora para outra. Fiquei perambulando pelos lugares ermos. Tudo inútil. Joguei nossos passeios no desemprego.
Estava passando e resolvi dar um alô. Já fiz isso ontem? O mês inteiro? O ano? Puxa, nem tinha me dado conta.
Gastei de tanto amar. Agora resolvi recarregar com um reforço. Para durar mais de uma vida.
Chega doçura, não há mais tempo. Querem o nosso couro. Vá para a reunião enquanto embarco neste navio em direção ao caos.
Tua cintura é intermediária entre os andares de curvas. Subo e desço por ela, musa.
Fiquei firme te aguardando. Virei figura carimbada em anúncios de voo. Sou o cara que te ama: assim me identifico.
Todos acham exagero. Por isso secaram o sonho, única porta para o dilúvio do corpo
Meu olho tentou te adivinhar em cada janela de avião, trem ou ônibus. Não estavas em nenhum. Sou teu coração na estação ou aeroporto.
Cansei de cultivar o amor com minha espera. Vou chutar o balde, beldade.
Abriste o relógio para entender o tempo. Não viste nada a não ser um coração disparado diante de ti.
Cabelo de fogo, estás aonde? Brilhas no horizonte, não brinque de esconde esconde.
São coisas simples, não sustenta uma conta. Mas sim isso morreremos, tesão sem conserto.
Não me dizes tua cidade. Deve ser em Marte. Já providenciei o oxigênio.
Atingiste aqui, no alvo. Agora aguente.
Devíamos ser mais corajosos. Ponha seu vestido vermelho que eu vou te ver montado num corcel branco.
Não vou te dar o comando. Não preciso abrir mão do que acredito só para ficar contigo. Acostume-se a isso. E me passe a ordem, agora!
RETORNO - Imagem: My Wife, Emeline, in a Garden (1890), obra de Edmund Charles Tarbell (1862 – 1938).
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