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12 de fevereiro de 2012

OS AJUDANTES DE NETUNO


Nei Duclós

Quando entrar no ar, não faça pose arqueando os braços, inflando os ombros e jogando porções de água no corpo, como se o dominasse.

Netuno tem coadjuvantes que providenciam correntezas em remansos, buracos em rasantes e ondas gigantes em água pelo joelho.

Não desafie quem você não entende. Submeta-se ao poder do mar, que graças ao Verão permite que você entre. Não esnobe quem pode te levar.

Já causa estrago a barulheira das vozes estridentes, som de biroscas e motores. Sorte que há a noite, quando o mar se recupera do que se ressente

De manhãzinha ainda há essa clima de natureza intocada na praia perto do morro, junto às pedras de misteriosa origem. Vá devagar, escutando.

O mar conversa o tempo todo, mas não contigo. Não tente entender sua linguagem. Ele faz parte do cosmo e namora tempestades de areia, na Lua.

Só quem brinca realmente n o mar são as crianças, sob o olhar atento dos pais, e esses ajudantes, pequenos deuses mutantes.

Os adultos devem se comportar e não encolher a barriga para mostrar poder. Relaxe e torne-se confidente do mar, último reduto do Big Bang.

E não invente de achar que é o mar que sopra o poema.A palavra é tua, que tiras de tua vida sem descanso. O mar espera que recites o soneto.

Os ajudantes de Netuno são como duendes, ninguém vê, a não ser seus movimentos. O poeta sabe porque ouviu as sereias.


RETORNO – Imagem desta edição: Crianças no mar, obra feita em 1872 por Jozef Israëls (1824-1911).

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