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3 de fevereiro de 2012

IMPROVISO


Nei Duclós

De repente, ficamos sem assunto. Foi uma espécie de tontura do amor.

Ela voltou, mas com reservas. Estou em observação. Preciso evitar o improviso.

Fui-me embora da conversa. Não tinha mais o que dizer. Passou da hora de agarrá-la.

Delícia, que palavra bonita. Assim como doçura. Um abuso.

Bem no ponto, onde há o toque. Mesmo que não toque de fato, apenas chegue.

Uma floresta se insurge e estende as ramas por toda a cama no momento em que existe o esplendor da trama por muito tempo tecida.

Só em dizer já fico sereno. Tua respiração me aguarda, suspensa. Tenho um som grave de trilhos ainda mudos. Preciso do teu vento no sino.

Foi me aproximar para ela fugir. Tem medo que eu fale o que não devo. Mas amor é segredo que nenhuma voz atende.

Dê um tempo. Meu sonho cabe nele inteiro.

Não te entendo. Teu palavrão não cabe em tuas virtudes. Talvez sejam meus ouvidos, treinados em confessionários. Ou então és pagã e só comigo és santa.

Não me fale em Deus se tens curvas, disse o ermitão em seu atraso.

Ela faz o contrário, para te manter no azeite quente. Te frita e depois te põe a secar.

Voltei no tempo. Vinhas avançando, mas não me viste. Foi rápido demais, não deu tempo.


CARÊNCIA

A carência faz faltar algo básico na hora decisiva. Assim mantém o jugo da demanda crônica.

Tudo o que você fez para atender a demanda será diagnosticado como errado ou inútil pela carência, que assim renova o jugo.

Sempre que você consegue o que a carência pede insistentemente já não serve mais.

Não ofereça opções para a carência que ela vai querer todas, o que é impossível atender e isso a levará para a recusa do pacote inteiro.

A carência precisa de ti em off e te esnoba on line.


RETORNO - Imagem desta edição: Kim Novak.

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