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16 de fevereiro de 2012
GÁS
Nei Duclós
Deveria estar longe daqui, onde possa respirar. Mas confundo você com oxigênio.
Pergunto por que me inflou esse tempo todo. Não consigo pousar. Agora tua ausência é uma seta no meu balão de gás.
Foi-se o tempo das memórias, foi-se o tempo do balanço, foi-se o tempo da esperança. Ficou apenas esse eterno presente, como um sol que não descansa.
Amadurecemos só depois da perda. Antes a eternidade é uma criança.
Lendo alguma coisa na sala de espera, você cruzou as pernas de escultura grega para me dizer alguma coisa. Deixei passar minha vez para espichar o suspense. Descobri que era uma forma de me desejar bom dia.
Quem se importa com a memória? O bom é estar perto do que tens de sobra.
Todos são sérios em suas arenas de glória. Só você é um anônimo da poesia sem pausa.
Pediram para esperar e eu fui embora. Não preciso entrar na fila da imoral miséria.
Flor do Pantanal que dura apenas uma tarde, és meu único sustento, amor sem futuro.
Acham que és frágil por descrever o amasso. Mas já estiveste na guerra e sabes manejar um fuzil. Há várias formas de coragem.
Desperta que estou sem arsenal. Preciso de tua assistência para cruzar o umbral que me separa da manhã e suas histórias.
Concordo que falta ainda para a estrela puxar o sol que está debaixo das cobertas. Por isso aguardo o momento certo, quando tua boca abrir sem querer um suspiro de te quero.
Fomos diminuindo o espaço em comum até ficarmos apertados entre paredes virtuais, confinados em quartos remotos situados em planetas diversos. Estamos quase indiferentes. Somos música ao longe
O melhor de um dia perfeito é não cumprir agenda. Não ficar atirado, mas prestar atenção aos desvãos entre as camadas da luz, lá onde mora a chance de real sobrevivência
Pergunto por que me inflou esse tempo todo. Não consigo pousar. Agora tua ausência é uma seta no meu balão de gás.
Fiquei fora esse tempo todo. Contigo dentro.
Demorei porque estava atento ao movimento das ondas, onde navegas o barco da minha esperança.
Não se invoque, é só namoro. Uma hora a gente salta fora, como nos bailes em que pedias licença no auge do grude traiçoeiro, quando te surpreendia com minha gana.
Pode sair agora. Já tenho o molde do teu corpo em minha mente pirada com teu cheiro.
Não falas mais comigo. Teu silêncio é um memorial de flores. Deposito um ramo nele e converso com as lembranças. Estás de vestido vermelho e usas batom da mesma cor no riso sem vergonha.
Não importa o beijo. Mas o que fica dele. Portal para um palácio de caprichos.
Nunca mais nos falamos, desde aquele soneto. Releve. Escrevi para o vento levar até onde um dia me queiras.
RETORNO - Imagem desta edição: Adrienne Palicki.
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