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7 de janeiro de 2012
SONHO
Nei Duclós
Eu posso viver sem você. É o meu coração que sente falta
Boa noite, disse ela. E caíram no meu colo todas as estrelas
Não exagera, me disseram. Concordo. Precisamos nos curar do que nos mantém vivos
Depois do aceno, ela se misturou à sombra. Não consigo chegar em ti, noturna
Quando falam que é demais é porque você sobra, não que esteja errado
Ela deve ter sentido saudade. Há uma batida de tambor no meu lado esquerdo querendo dizer alguma coisa
Meu mar te banha. És minha praia. Passo vento em teu íntimo
Agora se cala depois de beijar-me. Volto à calçada, onde espero o som da tua glória
Não se limite, disse o conselheiro. Que queres? disse o apaixonado. Que eu me expanda até ela me vir transformado em asa delta? Prefiro o beija-flor
Preciso de uma agenda, de uma linha divisória, de um convite. Tudo são fronteiras onde podemos capturar o beijo
Palavra tem endereço certo. Mas no caminho faz estrago, iludindo alvos que se escalam
É aquela e ninguém mais. Alguma dúvida? Pergunte a Cupido
Dormiu demais? Que pena. Há horas o sol se banha no mar
Hoje caí no mar. Somos velhos amigos. O que o mar me dá em sabedoria, eu devolvo em poesia
O mar ensinou meu corpo. Você é onda, disse. Navegue
Quando o poema trava em algum canto, vá até o mar. Ele está lá, obedecendo as lições de úmido movimento
Eu era um navio/ vindo de um rio/ com remos de dor/ e asas no corpo/ eu era um menino/ que enlouqueceu/ quando o mar bateu/ quando o mar bateu no rosto (uma letra de canção)
Ficaste, solidão, na paisagem do meus olhos eternamente. Eras a criatura mais desamparada e bela do mar ao fundo. Teu passo, pura areia da memória. Sou tua história, agonia
Treinei no mar as curvas do teu corpo
Viajei no mar. Nunca cheguei ao destino. O infinito não tem porto
Cavoquei areia e só encontrei poema. Fiz uma pilha deles. É só o que existe neste mapa do tesouro?
Encontrei no mar o que não procurava e que era essencial sem eu saber. O mar me desviou da fuligem, da ruína, que tinham se apropriado de mim
Lá estava tu, sumária, oferta absoluta para um peregrino e sua pose perdulária
Quatro palavras ditas num sussurro e eis-me morto. Não me acordem, mudei para o país do sonho
RETORNO – Imagem desta edição: Brigitte Bardot
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