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28 de janeiro de 2012
RUÍDO
Nei Duclós
Lembrança de um amor faz ruído de saia.
Sonhei contigo. Acordei melhor.
Fosse por mim, não terminaríamos. Nem a conversa, o abraço ou o beijo. Mas ela quis assim. Me pediu cinco minutos de intervalo.
A palavra pia o gesto que o artista descobre em cada traço, em cada curva do sonho.
Meu ideal de beleza é a beleza.
Som de fada é o silêncio. Só ursos captam no ermo, entre favos de mel e nervos, enredando asas nos pelos.
Conversamos tanto que ela precisou avisar que não era namoro. Estava assustada, a pombinha rola.
Nada sei de ti, a não ser que te quero.
Vire para lá seu desprezo. Não me olhe com essa cara cheia de dinheiro.
Talento, escreve como pouca gente, implicante e, quando quer, malvada. E carinhosa sempre.
Fui criado numa terra de brutos pela mãe amorosa. As duas coisas estão em mim ao mesmo tempo. Amor vence a parada.
Gosto de ser descoberto aos poucos por você. Mesmo que não tenha muito, só o que se vê. Além de uns grunhidos escondidos.
Não consegues viver longe do mar. Nem o mar, longe de ti.
Floresces por obra tua, diante de mim, seiva e jardim.
A natureza também escreve ficção: teus defeitos.
Convidas ao baile, todos vão. Eu fico na espera, com a colcha estendida de estrelas.
Dançar contigo seria injusto, deixo que brilhes em gesto solo. Sou tua paisagem nesse rodopio pelo firmamento.
O frio voltou, com as nuvens espessas e indecisas. O verão pôs um casaco e toma um chá. Te enroscas em mim como um edredon antigo.
Sabe as mensagens enviadas? Apagaram tudo. Agora sofre, cão, com a espera interminável.
RETORNO - Imagem desta edição: Audrey Hepburn.
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