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12 de janeiro de 2012
NO MAR, VEREMOS
Nei Duclós
Pescador de rio pequeno
coloca tudo nos eixos:
seu aço guardado em sótão
sua lança quebrada ao meio
Sabe o rumo da tormenta
o passo da palometa
o avesso de toda malha
o limo sob o sereno
Pescador de rio moreno
charrua de preta escama
seu barco já está a prumo
aguarda a voz do minuano
E se vier o mar
com séquito de sereias
a espuma em seu território
a carne suja de areia?
E se vier o mar
usando arpões de baleia
sargaços ardendo em febre
gáveas altas como estrelas?
Pescador tem a resposta
dobrada em lenço vermelho
que aviva os sonhos do sótão
de aço posto nos eixos
Pois o mar é uma lenda
cultivada pelo vento
a porta de um outro mundo
maré de água estrangeira
é uma espécie de terror
com batalhão de tridentes
generais do imperador
roubo de comerciantes
O mar, para um pescador
criado em água corrente
nos arames dos arroios
entre os moirões das fazendas
é uma dança pelo avesso
a trilha do formigueiro
metralha sob a vanguarda
canhão contra baioneta
Pois se vier o mar, veremos
o barco a remo do pampa
puxando um cordão guerreiro
para atiçar a batalha
para tingir os valentes
para costurar a mortalha
do sal que resseca a rede
que suga o sangue farrapo
com sua manha de peixe
Pescador vem do levante
e um milhão atrás dele
RETORNO - 1. Imagem desta edição: foto de Anderson Petroceli, o fotógrafo maior da fronteira. 2. Poema principal do meu livro de poemas lançado em 2001 pela Editora Globo, com prefácio magistral do poeta Mario Chamie, e mais tarde musicado pelo gênio de José Gomes, No Mar, Veremos é um poema clássico da literatura brasileira. É preciso que se diga. Já se passaram dez anos.
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