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7 de janeiro de 2012

A LETRA BORRADA DO POEMA


Nei Duclós

Foi fácil me abater. O que farás agora com o corpo?

És um risco. Sou a fagulha

Fica. Até que as estações caiam de maduras. Minta que não tem para onde ir

A deusa da floresta exibe o coração mesquinho. Decidi flechá-la com a última seta que guardava para sobreviver

Moro no mito, casa na espuma. Cubra-me com tua rede de Lua

Vou esquecer que existo. Assim não terás culpa em esquecer-me. A não ser que o amor te lembre

Caminho pelas dunas e te vejo náufraga pedindo ajuda. Busco-te entre as ondas e te beijo, doçura

E assim passei a vida, tocando o tecido que tu usa. De vez em quando tiras para eu acreditar em destino

Me mate que eu preciso. Só saio daqui depois que colocares o guizo. Venha me dizer quando é hora que me encilho de Príncipe

Mais perigosa que o disfarce entre folhas, com o bote engatilhado desde sempre e não há destino que desarme esse estampido

Não serei nada enquanto fores tudo. Devo crescer diante de ti, magnífica

Talvez estejas pronta para me dizer o que mais temo: que me pertences como um corpo vivo em meus braços. Que farei contigo se nada sou sem ti?

Sonha, caprichosa, com o tempo em que estivermos juntos. Invente esse reino dentro do possível. Eu faço minha parte: penso nisso o tempo todo

Desaprendi de ser de alguém e exibo os ferimentos da guerra. Agora deves me curar com tua indiferença. Só te perdendo saberei o quanto te quero

Ando desavisado pela alameda onde posso te encontrar. Nenhum sinal de ti. De repente, ouço teu salto que se aproxima. É um grito, teu susto

Escrevi tudo isso enquanto esperava o encontro contigo. Chegaste tarde, pingando chuva. Quis mostrar o poema, mas a letra borrada só dizia eu te amo


RETORNO – Imagem desta edição: Marylin Monroe. Sempre.

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