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31 de janeiro de 2012
ENCANTO
Nei Duclós
Enfim me conheceste ao vivo. Foi encantadora a tua decepção.
Acorda. O sol só começou, mas a paixão já está a pino.
Desarrumas a cama com teu desleixo de felina. Depois vem com papo de faxina.
Palavra é o fermento, pareço gigante. Tira o verbo, sou apenas soldadinho entre teus brinquedos.
Exiges que eu salte para o dia com minha pasta de executivo. Mas prefiro apostar na loteria. Teu corpo é meu palpite.
Alcance o alpiste dos passarinhos nesta manhã magnífica, para que eles cantem tua formosura, e eu curta minha alegria.
Deita comigo só por uma vida. Nossa cama será o Paraíso. Acordaremos no Outro Lado, rindo.
O melhor amigo do ombro é o sorriso.
Ela sempre vai embora. Mesmo quando chega, com gosto de viagem de volta para o lugar que desconheço
Moro na estação das horas, sem ponteiros. Não sei como sabem quando devem bater o sino. Talvez ela avise, piscando os olhos.
Hoje vi nove veleiros escoltando o horizonte. Estufados do vento que sobrava na praia.
Poesia é toque profundo Beijo-te as taças e vitrines E os poços, as nuvens,as peles e os cílios.
Tens o formato do meu colo, assim como a camisola das tuas curvas. Que fazes na manhã clara, preguiçosa?
Fui para a praia, disse ela, que mora na beira do mar. Não cola, realeza. Arranja outra desculpa. Foste para longe de mim, isto sim
Quanto mais apressado e urgente você estiver numa concentração de trabalho, mais insistente e inoportuna é a mosca de verão. Parece amor.
Decepção com o Modernismo não pode abrir a guarda para o velho artificialismo. É preciso manter o domínio da linguagem e a liberdade poética.
Todos os poemas: somos onívoros e nada ficará de fora. Mas sobrevive a conexão com o conhecimento adquirido, a vivência dos grandes autores.
Ficaste séria de repente. Prevejo tempestade.
Fico apreensivo com teus tornados. Eles pintam longe como piões coreografados. E quando chegam são devastadores em seu choro e rasgos.
Não me venhas falar em trabalho. Sou operário. Carrego um coração pleno de ti, minha jornada.
RETORNO – Imagem desta edição: Amelie Florence, obra de Charles Joseph Frederick Soulacroix.
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