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3 de dezembro de 2011
VELUDO EXTREMO
Nei Duclós
Nem tudo posso dizer. Guardo alguma coisa só para ti . Que te faça companhia quando chegares tarde e eu estiver longe, apascentando estrelas
Lucidez é o teu acervo. Mas exerces o mistério em homenagem à imagem que fazem do gênero
Gelei quando disseste sim. Não estava preparado. Minha especialidade era respirar sem oxigênio. Mas bastou um sorriso e resgatei o fôlego
O amor não joga pedras. Se jogar, é desamor. Do amor nada se leva. Se levar, é que ficou
Navegamos livres do que estava amarrado no fundo, mas trazendo dele a memória para um mar que deixa de ser mudo
Não cansarei de ti, pétala úmida. Provarei teu sumo até quando tudo entardecer e formos só nós dois num oceano de estrelas
Tua pele é um mistério, pois o toque tarda. O encontro adiado prega peças. Fazemos as malas numa solidão que se despede
Guardei meu caderno embaixo da cama. Na noite alta, meu braço vai até o poema e toca a gelatina do teu sonho
O que nos acorda senão esse chamado que pulsa no fundo de uma chama?A que deixamos crepitar à toa antes de levantarmos âncora?
Voa, meu amor, no céu da tua vontade. Acompanhe a nuvem que te acalma. Suba até o beijo e depois pule no abismo do que somos
Meu Deus, como você gosta. E depois me pergunta o que houve. Nada, respondo. Apenas há esse brilho no teu rosto e o corpo num veludo extremo
Foi dada voz de prisão ao poema. Todos os pássaros se rebelaram e houve um crepitar de fogos no interior do vento
Me esperaste na varanda, com a ponta do vestido na mão, olhando a estrada. Quando apareci, de mala rota, teu rosto se incendiou junto com o dia
Já parti, disse ela. Nem tinhas notado. Mas já não vês meu corpo aberto para o abraço. O amor te deixou primeiro, eu fui depois
RETORNO - Imagem desta edição: Marilyn Monroe
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