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11 de dezembro de 2011

NA ALTURA DE VÊNUS


Nei Duclós


Tuas rendas na altura de Vênus, eis o segredo do verso. Teu espaço de sereno aguarda o momento certo

Este romance não acaba. Há trens, estações, acenos, tranças, lampiões. Até o neón parece antigo. Custo a chegar ao tempo que nos comove

Volto cheio de planos. Monto um escritório. És minha cliente. Quero o amor de volta, dizes. Providencio então uma dúzia de rosas

Ainda sentimos. Herança de um mundo perdido, que nos mantém vivos

Faço parte da insurreição do poema. Soldado, envio uma carta do front. Ela chega em segundos. Estás ao meu lado, amor

Aceitei sua renúncia. Mas não vou substituí-la. As forças do poema ainda não cerraram fileiras. Aguardo o apoio da multidão dos seus desejos

Tem gente que prefere ver uma luta. Nós decidimos comer algodão doce num barco, em meio ao lago. Na beira, uma cantata. A bordo, teu seio

Declarei o amor, minha alforria, e parti para a guerra, ver a dor. Voltei alquebrado, minha alegria, e aqui estou aos teus pés, com uma flor

Só o que importa é o dinheiro.A poesia é tratada como lixo.Mas os réquiens de luxo mendigam palavras que emocionem para fazer jus a uma vida

O deserto é feito de espetáculos bisonhos. Solidão de luzes roxas. Horizontes estranhos. Mas teu coração, pássaro de encanto, te dá conforto

Ninguém impedirá que sejas teu destino, esse fundo enredo de águas interiores. Deixe que falem, cubra-se com o teu amor que vem de longe

Somos criaturas de sonho. Abra mão do que derruba a fantasia e vista-se em direção à fonte. Depois tire a roupa, cachoeira de gozo

A missão do homem é ser a rocha onde pousa esse beijo trêmulo. Que o civiliza para celebrá-lo. A magia da flor que medra em seus escombros

Conduza a carruagem pelo pântano. A princesa que levas junto suja o vestido, mas não importa. Ela tem os olhos fixos em teus ombros, gigante

Há um conluio de sombras que te impedem de chegar ao pote do arco-íris. Elas varrem a aliança com dedos sujos. Use o cheiro, mas consiga

No momento em que você brilha, acerta o veio, debate-se desesperada a alma em chagas que te cerca e aposta em tua penumbra. Seja forte

De que vale ser a ave sagrada pelo batismo se não permites que renasça o amor em ti, submersa pedra coral

Ele é meu escravo, fica na corrente, mas pensa o que quer, disse o feitor. Então ele é livre, disse o ditador

A virtude aprisiona quando se apropria do sentimento alheio. Ou libera, compartilhando a dúvida e dando chance ao amor, ou terá retaliação

Falarei de maneira explícita, se quiseres. Direi o que sinto em cartazes imensos. Passarás indiferente pelo que sangra, minha flor de cardo?

Fico surpreso quando vejo teus sinais na estrada onde durmo. És tu? pergunto. Meu sonho oculto. Onde medra esse amor infinito?

Renasces em mim dizendo apenas que me escuta. Teu silêncio não germina o desencontro, antes o abastece

Não tens culpa de seres tudo. E que qualquer gesto, mínimo, me reacenda a esperança de um amor que contava perdido. És minha ilusão favorita

Te lembro alguém, de algum lugar. Mas é ilusão. Sou aqui e agora e agarra essa chance. Não porque precises, mas porque me salva

O sonho não estava solto no ar. Mas em lugar sabido, onde pulsa a disforme condição de criaturas que não vivem sem amor

Quem segura essa paixão feita de pólen, com o açúcar extraído de um coração que não desiste, e borrifado pelo perfume das estrelas?




RETORNO - Imagem desta edição: Gisele Bundchen

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