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8 de dezembro de 2011
CUPIDO,O DEUS TRAVESSO
Nei Duclós
Somos um casal improvável. Temos diferenças radicais. Nos salões, não nos reconhecemos. Mas Cupido, deus travesso, age nos quintais
Estava em outro lugar o amor que procuravas. Escondido no umbral da ventania. Lá onde passavas, e não me vias
Fiquei assustado quando te vi na festa. Achei que era uma miragem. Mas eras tu, cinderela
Você chegou perto cedo e eu aprendi a prestar atenção. Não podia deixar solto o teu fascínio. Pedi proteção e te tirei para dançar
Misturei estações. Troquei palavras. Errei caixa postal. Disquei um número a mais. Mas foi tudo inútil,te encontrei por acaso. Era o destino
Essas histórias não existem, disse o pragmático. Ninguém mais ama. Escreva sobre a zona do euro. Não me dedico à pornografia, disse o poeta
Nosso trunfo é que dispomos de mais palavras e mais poder de encantamento. Eles estão travados na secura que promoveram. Engatilhe o poema
Não vejo sabedoria no que escreves, disse o conferencista. Amor é treva e um cavalo encilhado para roubar a noiva, respondi
A viagem será longa? perguntou o hospedeiro. Ela mora perto, disse. Mas levarei uma eternidade até ser recebido de novo no seu coração
Por que vocês romperam? alguém perguntou. Deixamos apenas que o silêncio tomasse conta, respondi. Não sabíamos que ele era de concreto
Você fugiu porque não achava merecedor, me disse a confidente. Talvez, respondi. Mas o que pegou foi o esforço de vencer a tristeza
Fui o primeiro a usar todos os recursos para o amor acabar. Mas o amor riu de nós e nos mandou pastar. Somos gado de Eros, fazendeiro
Quisemos nos despedir mas a carne era uma só. Foi o amor que trançou a rede enquanto o tempo passava nos levando embaixo do braço
Acorda amor. Preciso despertar o que deixei em repouso, entrar no teu sonho. E ser o que imaginaste se fosses beijada na manhã de ouro
Despertar a princesa com mais de um beijo. Fazê-la suar de desejo
RETORNO – Imagem desta edição: Diana e Cupido, 1761, de Pompeo Batoni
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