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7 de dezembro de 2011

ARRASO


Nei Duclós

O amor foi um arraso e precisei recuperar teus movimentos. Calcei teus sapatos, te passei batom e beijei teus olhos, devastada

A roupa impregnou na caminhada. Com barba por fazer, tinha aspecto de um bravo. Mas era só impressão. Diante de ti sou covarde, deliciosa

Alimentado por uma gota de mel, cruzei a cidade. Estavas nua à minha espera, maratona de fada

O cansaço acabou vencendo a insônia. Deixaste um recado para as estrelas, testemunhas da vastidão da tua doçura

Voltaste de surpresa às três da tarde, quando eu voltava aos meus hábitos. Estragaste o meu dia. Obrigado, tempestade

Não pedi nada, apenas entendi mais do que devia os teus escassos acenos. Vejo que estás em outra. Não preciso de ti, meu alimento

Estamos no meio da semana e o sol já vai alto. Sentes culpa, mas não se engane. O coração não bate ponto, é um saltimbanco

Resolveste fugir para que eu jamais te encontre. Mas sei teu endereço: porta central do coração, meu doce encanto

Diga que é fim de ano, por isso essa perda de tempo com os assuntos do amor que ninguém mais acerta. Só nós dois, oásis deste mundo deserto

Estranharam que mudei meus planos. Ia ver a neve numa viagem cara. Mas resolveste atender os povos da floresta. Vou contigo, solidária esplêndida

Todos tomam café, ficam compenetrados, pagam no caixa. Só nós olhamos vitrines e rimos até sentar na calçada por sermos tão felizes

Essas frases são versos? ela perguntou. É um romance,falei. Estou nele? quis saber. Não, respondi, você está só escrevendo

Sou tua personagem? ela insistiu. Não, respondi. Só eu sou o fantasma. Tu és real, pois cada gesto teu é a letra que te rasga

Agora sou teu, garanti. Então onde estás? perguntou. Em ti, respondi

A fantasia precede o baile. Por isso imagino o nosso amor, dançarina


RETORNO – Imagem desta edição: obra de Paul Chabbas

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