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19 de dezembro de 2011

ALVOROÇO


Nei Duclós

É tão suave o toque do teu corpo. Roça meu nariz com gosto. Formata o ombro. Coloca fogo brando e depois incêndio. Quem te segura, alvoroço?

Perguntam como estou. Você me dói um pouco, respondo. Mas logo fico bom quando você chega cheirando a chuva

Fui reprovado em todos os testes rigorosos de tua seleta. Espero que releves. Sei que me amas, definitiva

O poema repõe forças, alinha sopros, recupera tempos, alinhava toques, acompanha ventos, desarvora, para que o amor triunfe

Levo um susto quando dás o bote.Enrodilhada no silêncio,de repente dizes o que eu não esperava. Tento me recuperar,mas é tarde.Fui capturado

Quem deveria me dizer, se cala. Fica a demanda. Todos se atiram, em vão, no ouvido alheio. Só tu me tens, palavra

Hoje não soube de ti, sentimento. Ficaste longe, como sempre. Não te chamo, para não quebrar o encanto. Aguardo a estrela Dalva

Vales mais que toda algaravia. Esse jorro de declarações sem sentido. Me fazes companhia, concentrada

Queres saber o que realmente digo por trás do biombo das palavras. O que fala meu coração quando se cala

E você, fortuita, não me peças decisões quando só tenho amor. Quem ama tem essas escassez de concretagens

É você que lê e guarda. E olha o poema contra a luz da Lua nova. Para ver se na letra mora a verdade que imagino ter

Vou deixar para amanhã o verbo que me pega pelo braço. Pouso em ti, flor do espaço

És a criatura mais linda deste dia. A mais feminina, a mais mulher. Fico louco de alegria só em te ver

Esse amor não dá trégua. Vão ter que nos prender e nos jogar em celas separadas de planetas distantes. Pois qualquer proximidade resgatará o grude

Quis comentar as notícias, mas o amor desviou minha atenção. O talo de flor que colocaste na boca tem mais impacto e sabor

Esperei amanhecer para te ver passando. Então voltei ao normal, porque és meu dia claro

Não há como viver sem que me digas quando. Nem fazer viagem sem teu encanto. Nem compor o verso sem tua canção selvagem

A caixa postal estava cheia de folhas. Não foi o vento. Eram bilhetes que me enviaste de Andrômeda

Me risca num papel novo. Me dobra em forma de navio, de pluma, de rosto . Como se eu fosse teu adorno. Um camafeu brilhando no pescoço

Musa é pouco, és meu entorno. Giras como vagalume sobre a noite. Mariposa prateada sem pouso. Piscas como louca, meu martírio

Chegaste cedo, dobraste a roupa. Eu ainda dormia sem fazer alarde. Amarraste a fita dos meus sonhos. E me beijaste a boca, às três da tarde

Ninguém adivinha meu alvo. És tu, mulher que me fez confesso. Depois de ti, abri todas as comportas. Te inundo, maravilhosa

És boa nisso, poções e ungüentos. Mas sou de outros tratos. Lancei um foguete para a Lua. Porque estavas lá, mágica

Se for permitido o sentimento e não houver cama para o remorso, sou pretendente do teu trato, da primeira dança no salão do teu recanto


RETORNO – Imagem desta edição: Anne Hathaway

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