Blog de Nei Duclós. Jornalismo. Poesia. Literatura. Televisão. Cinema. Crítica. Livros. Cultura. Política. Esportes. História.
Páginas
▼
15 de novembro de 2011
O CASAMENTO DE JACK O MARUJO
Nei Duclós
Explica-se agora o longo sumiço do capitão: foi se despedir dos amores que deixou em cada porto. Não contou nada a ninguém e voltou disfarçado. Aos poucos, foi revelando suas intenções, até fazer o pedido para a Sereia. Os antecedentes e a cerimônia estão a seguir. A ilustração é de Chris Achileos, sugerida por Nirlando Lopes, o @landnick, entusiasta do personagem. O casamento causou grande comoção no Twitter, onde o capitão cresceu e se desenvolveu e ganhou um número imenso de admiradores de todos os gêneros e idades. O capitão do amor sucumbiu ao sentimento. Viva as leis do coração!
A VIAGEM
O que viu por lá? perguntou o Almirante. Visitei o alto mar, onde mora Netuno, disse Jack o Marujo. Lá existe uma fonte que nos salvará
A Sereia era a mais bela da noite, disse Jack o Marujo. E fez questão de refletir só o meu olhar no brilho das suas escamas
Seu coração está enorme. Precisa caminhar no convés, disse o médico. É o amor. Me deixa imobilizado, disse Jack o Marujo
Uma mensagem do capitão veio pelo pombo correio, gritou o Grumete. Jogue no mar, disse o papagaio. A sereia já está entrando na minha
O vento bateu na janela do barco. É você, Jack? perguntou a Sereia. Mas havia apenas a Lua cheia prateando o mar, eco de suspiros
Jack está sumido depois de muito aprontar. Viajou para um dos sete mares. Mas ele voltará, com tudo. Um amor em cada porto
Relacionamento sério é correspondência comercial. O amor é pândego, disse o palhaço. Não fale isso diante da sereia, disse Jack o Marujo
Na noite de Lua Cheia, a sereia não parava de chorar. Vai ter um troço desse jeito, disse Jack o Marujo. Já tive, disse ela
Hoje vai ter Lua Cheia, capitão, avisou a Sereia. Nada se compara ao que tenho agora na minha frente, disse Jack o Marujo
Para que servem as sereias? perguntou o Grumete. Para morrermos no mar, disse Jack o Marujo
Roubaram tudo, disse o Almirante.Não sobrou nada do país. Temos um coração, disse Jack o Marujo. Não prestaram atenção. A não ser a mocidade
Poeta faz parte da tripulação. Rema no porão, limpa o convés, faz plantão.O poema é apenas o mal súbito de onda que mostra o dorso da sereia
O sr. viu minha caixa de jóias? perguntou a Sereia. Aquela que tem um anel de noivado colocado hoje? Não, disse Jack o Marujo
Tem vindo pouco por aqui, disse o fiscal. Fui convocado para missão no alto mar, disse Jack o Marujo. Netuno compareceu.Mas me pediu segredo
A barra está fechada, disse o Imediato. Melhor.Quando todos esperam nosso sono, lutaremos por uma brecha no alto mar, disse Jack o Marujo
Não há mais porto no mundo, disse Jack o Marujo. Está tudo tomado pelos abutres
Quem é o sr., capitão? perguntou a repórter. Sou o o mar e o amor é a minha praia, disse Jack o Marujo
O vento bateu na janela do barco. É você, Jack? perguntou a Sereia. Mas havia apenas a Lua cheia prateando o mar, eco de suspiros
Vá descansar, me obedeça, disse a Sereia. A tripulação cuida do barco. Senão poderás adoecer. Um rei nunca dorme, disse Jack o Marujo
O rock mudou o comportamento da juventude? perguntou o Grumete. Houve só uma migração de gritinhos, disse Jack o Marujo. O resto ficou igual
Gostaria de ter nascido na sua época, disse o Grumete. Bom, disse Jack o Marujo. Hoje não serias alvo das mulheres, mas de homenagens
Sinto saudade do que não vivi, disse o Grumete. Isso é falta do que fazer, disse Jack o Marujo. Ligue na Radio Nacional e varra o convés
A PROPOSTA
Casa comigo? perguntou Jack o Marujo. Não escutei direito, disse a Sereia. Você está querendo que eu seja feliz para sempre?
A CERIMÔNIA
Eu caso vocês, disse o Almirante. Obrigado. Netuno não poderá vir. Nem o casamento de um bravo muda a agenda de um deus, disse Jack o Marujo
Alunos da escola naval perfilharam-se no barco onde acontecia a cerimônia.Quando um bravo casa, a mocidade celebra em posição de sentido
A Lua cheia providenciou o vestido da noiva. O capitão compareceu com suas medalhas: conchas e estrelas do mar colhidas nas noites de amor
As sereias se calaram por um instante. Homenagem àquela que decidiu-se por um único amor. Envio-lhe os meus respeitos, mandou dizer Netuno
O bouquê da sereia foi jogado ao mar. Antes de bater na água,multiplicou-se por mil e cada pétala caiu como lágrima no coração das mulheres
Diga sim e cale-se para sempre, disse o papagaio antes de ser colocado na prancha
Os corsários aproveitaram o casamento para saquear os barcos dos convivas.Mas devolveram tudo aos pés do noivo,que usou apenas seu duro olhar
Foi tudo tão bonito,disse a Sereia olhando a Lua nova em forma de anel de brilhantes.E você foi um cavalheiro deixando para chorar só agora
Jack volta casado nos próximos dias.Não esperem que ele tenha mudado. Continuará dizendo na lata, sua especialidade.A que encanta as sereias
O capitão e a sereia passam a lua de mel num cruzeiro de luxo. Jack paga a passagem num pocket show de stand up com suas melhores frases
O Imediato dançou a noite toda com as visitantes: a repórter, a corsária, a fada, a prefeita. Mas acabou caindo do convés num tango
O Grumete tomou um porre no casamento do capitão. E se postou na prancha para provar que poderia sobreviver. Jack liberou-o por duas semanas
Queria ser o padrinho, disse o papagaio. Mas me conformo em ser mestre de cerimônias. Estou encarregado das aias, todas brotos de sereias
Deixe que eu cuido de tudo, disse o papagaio. Vá para sua lua de mel. Vou vender essa joça para a sucata
Jack casou com a Sereia neste feriado, disse a Gazeta Cisne Branco. O mar compareceu
Jack o Marujo e esposa foram recebidos pelo Imperador em Palácio, disse a Gazeta Cisne Branco. Uma salva de 21 tiros saudou os noivos
Agora vou dormir,estou de ressaca,disse Jack o Marujo.Não invente de cantar de felicidade. O navio está cheio de gavião louco para se afogar
Nenhum comentário:
Postar um comentário