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8 de novembro de 2011
HABITE-SE
Nei Duclós
Habitar o espírito depende de uma sucessão de eventos. Como vivemos à mercê da indústria do espetáculo, que suga emoções esvaziando espíritos, que são preenchidos desde que se pague por isso, o vazio, e seu irmão gêmeo, o desespero, tomam conta das vidas. É impossível segurar a carga de problemas de uma trajetória normal aqui na terra sem que haja o contrapondo do habite-se espiritual. Há quem preencha só com religião,o que corre o risco de virar obsessão. Outros com auto-ajuda, mas isso implica ignorância em relação a autores clássicos, que detém a verdadeira profundidade do pensamento. E outros ainda com a oferta variada de asneiras disponíveis nas mídias.
Os eventos a que me refiro fazem parte de uma linhagem a favor da vida plena. Começa com alimentação e teto desde a infância, seguido da necessária sólida formação, que nos instrumenta para a seleção criteriosa, a defesa contra armadilhas e a criação, que é o exercício mais importante desse processo. Criar, seja o que for (desde que não faça parte de nenhum crime) é o que nos leva para aquela situação de conforto conosco. A auto-estima vem da realização na nossa meta de participar de atividades criativas.
E não falo em criatividade vendida pelo marketing, essas ilusões corporativas que varrem as empresas. Inovação, dizem, parceria, fazer a diferença: lugares comuns que nada significam Você simplesmente precisa criar, fundado na tua intuição e inteligência, e principalmente, na tua liberdade de expressão e escolha. O território do conflito é dentro de ti, interagindo com tudo o que te cerca, com as conexões que fazes, com os laços que se rompem ou se recuperam, com os amores imperfeitos. São iniciativas que fazem parte desse esforço espiritual para habitar o espírito. É um trabalho prazeroso para que coração e mente se abracem, como numa história de amor de final feliz.
É importante a formação para não se entregar ao primeiro charlatão que chupa de tudo o que é fonte (e as desvirtua) só para impressionar as pessoas. Cevados pela indústria do Mesmo e do Ego, esses protagonistas do Nada tomam conta dos espaços midiáticos e levam multidões a passeios vazios, onde o único fruto é o dinheiro que arrecadam. isso serve para a literatura ou a religião. Na minha vida longeva, vi todo tipo de moda surgir e se desmanchar no ar. É hora de pegar essa experiência e fazer dela algo mais sólido, conseqüente. O caminho é não deixar iludir, é acreditar que temos capacidade de nos superar, é duvidar das certezas, mas não deixar que as dúvidas nos sequem por dentro.
Essa busca incessante de equilíbrio é que faz a graça da vida. Nunca estamos prontos e no futuro seremos recebidos por Deus em nossa escassez humana. Somos feitos desse nó sem sentido que é vida terrena. Nela aprontamos as nossas melhores criações. E as levamos para o Outro Lado, como representação do espírito habitado. E deixamos como legado um feixe de realizações calorosas, que alimentam o espírito dos que ficam. Seremos lembrados pelo habite-se que conseguimos em vida.
RERTORNO - 1. Crônica publicada no jornal Momento de Uruguaiana. 2. Imagem desta edição: obra de Almeida Jr.
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