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30 de novembro de 2011

DILÚVIO


Nei Duclós


Puxei seu cabelo até a superfície. Lá, respiramos. Mas ela pediu para soltar e se foi, no vórtice do poema que jamais ficou pronto

Para você é fácil, disse ela. Fala tão bem que imagina vibrar. Eu sou de outros sons. Só toco quando vibro de verdade. Cuidado

Se fosse matemática esse sentimento, e se houvesse química entre planetas distantes, eu seria o projetista de uma nave louca, você

Confirmado. Ela se foi por hoje. Mais uma temporada no deserto. Nenhum sortilégio te traz de volta, única água para minha fechada sede

Não faço as refeições se ela não responde. Não durmo se não acena. Não sonho se não me traz um ramo depois do dilúvio do choro

Viajei para o lado oposto, pois achei que ela não me queria. Mas me enganei. Na primeira parada, havia um mensageiro com meu nome. Armado

São pequenas pistas que ela deixa ao longo dos dias. Como se eu fosse um rastreador de musa. Sou apenas um viajante e não tenho rumo

Agora escapa novamente. Foi só um assomo de esperança. Sombra do olho, fogo da percepção. Estranho. Se for amor, não se espante

Como não a toco,ela some com o silêncio. Como não a vejo,ela volta quando fala. Como não há vento,há só sua lembrança. Poder de encantamento

Você tem direito a três pedidos, disse o Gênio. Amor é o primeiro, disse ela. Os outros dois eu repasso para a caridade

Passei a morar, cada vez mais perto e imperfeito, no teu olhar, foco do sentimento

O que tem hoje? perguntou a moradora. Pão e poesia, disse o entregador. Deixe a poesia. Quem sabe um soneto me leva ao baile

Agora me recolho. Se tiver de mim a mínima lembrança, estarei sob o sol, de olho no horizonte. Vais me querer então, maravilhosa?


RETORNO - Imagem desta edição: obra de Caspar David Firederich.

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