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22 de outubro de 2011

POESIA EM BUSCA DA ORIGEM


Nei Duclós

Deixe as rosas completarem o ciclo.Cairão todas a pétalas e tu permanecerás ao lado, montando guarda da beleza. E ficarás cada vez mais orgulhoso

Exageras para cativar o Acaso, e seu tesouro, a Surpresa

Agora que fui flagrado neste ofício que não serve para consertos nem faz parte dos artifícios, só me resta a palavra, irmã do vento bandido

Fingi que sabia usar arco e flecha, dar tiro. Construí muros, alcancei navalhas. Mas o coração cansou de mentir e me jogou no chão com força

Prometi parar e até fiz dieta de estrofes, podei rimas, doei versos. Mas sempre havia algo brotando.Vinha da sala escura, onde o amor tecia

Quando me perguntam o que faço agora respondo que não sei exatamente. Às vezes componho voos de auxílio às joaninhas. Parece que precisam

Tinham me avisado do perigo, mas insisti, achando que a poesia era destino. Errei. Deveria aprimorar outras qualidades, como provocar chuva

Não se entregue assim à poesia. Poderá acabar num banco de praça, numa tarde da eternidade, junto com os cães e os versos jogados no lixo

Não saia à noite sem se proteger contra a pressão das estrelas. Elas poderão sugar teu olhar até onde some o infinito. Lá, você vai ver só

A Noite não diz para ninguém, mas o Tempo está perdido. Por isso nos sentimos sós. Abandonados no berço, crescemos sem saber da nossa origem

A bolsa ardente do sol vai mergulhando no abismo enquanto lança raios que borram as nuvens de luz e varrem o céu de outubro. Quieto,coração

Não desista, lute. Os frutos são generosos. Suor e fé. Juntos


RETORNO - Imagem desta ediçção: The Finding Moses, de Frederik Goodall (British, 1822–1904)

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