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8 de outubro de 2011
A GREVE DOS POETAS
Nei Duclós
Os poetas fizeram greve
e todos os jardins saíram em passeata
Os poetas fizeram greve
e as palavras se aglomeraram nos bares para beber cachaça falsificada
Os poetas fizeram greve
e os lírios perderam sua última esperança e acabaram se suicidando em massa
Os poetas fizeram greve
e todos gargalharam. Menos a fada, que tocou o alarme
Os poetas fizeram greve
e ninguém deu aumento. Ao contrário, cortaram a subsistência de quem verseja na rua vestido de mendigo
Os poetas fizeram greve
e as autoridades mandaram trancafiar o amor para impor as negociações
Os poetas fizeram greve
e as hostes da defesa ficaram imobilizadas na fronteira, sem os tambores épicos da convocação
Os poetas fizeram greve
mas as crianças estão fazendo trabalho voluntário até ser resolvido o impasse
Os poetas fizeram greve
e se concentraram no fundo do mar, acobertados pelas sereias
Os poetas fizeram greve
e as mulheres ficaram à mercê do assédio inspirado no desprezo
Os poetas estão em greve! gritou o Grumete.
Não vai durar, disse Jack o Marujo. Ninguém vai correr o risco de ter sereia brava no alto mar
Acabou a greve dos poetas,
que recolhem as palavras bêbadas com a súbita liberdade. Voltem pra casa, dizem os ex-grevistas. Nós amamos vocês
No final da greve dos poetas,
houve um tsunami de lençóis
RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.
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