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27 de julho de 2011
ESCOLHAS
Nei Duclós
O jornalismo parece estar entrando em descenso depois de uma fase áurea de prestígio, pelo menos como escolha de faculdade. Houve um tempo em que o vestibular para a profissão era tão competitivo quanto o da medicina. Com o fim da obrigatoriedade do diploma e com a possibilidade de todo cidadão virar mídia graças aos recursos digitais, parece que a antiga “comunicação” entrou em fase decisiva de reciclagem, com algumas perdas importantes. Mas por mais que saia de moda, jamais, imagino, chegará ao estado em que se encontrava quando me decidi pelo ofício.
Como passou muito tempo posso agora contar. A proximidade com os fatos cria embaraços óbvios, pois o calor do momento vibra por décadas. A idade avançada nos permite rir de tudo, pois a vida é datada e precária, só nós não percebemos quando ainda estamos envolvidos com ela no auge da força. Quando eu tinha uns 16 anos fiquei rodeando o lugar que eu mais admirava, a rádio São Miguel, naquela época dentro do padrão Guaíba de qualidade, sem interferências publicitárias gravadas e com uma programação musical de primeira. Tinha também um bom jornalismo,mas nisso a Charrua se destacava mais, graças a grandes radialistas como Mario Dino Papaleo e Mario Pinto, entre outros.
Cheguei a entrar para oferecer meus serviços, pois era naquilo que eu queria trabalhar. Riram do gurizão, claro. Primeiro, não havia vaga, segundo, ali não era escola, terceiro era algo tão remoto quanto viajar para Paris. Mas dizem que insistir é que traz sorte, então quando fui a Porto Alegre ainda sonhava com essa escolha. Mas havia resistência forte no ambiente social. Jornalista era “boêmio e tocador de violão”. Mesmo depois de entrar para fazer estágio na Caldas Junior,os veteranos aconselhavam os novatos a fazer concurso público, pois aquilo era só um bico. Com breve passagem pela Engenharia (onde tinha me metido para provar que poderia passar naquele vestibular tido como difícil), escolhi o Curso de Jornalismo da Ufrgs, mas num momento tumultuado, exatamente o ano de 1968, quando o mundo explodiu na cara da nossa geração.
Acabei saindo da faculdade quando o AI-5 expulsou os melhores professores. O curso de jornalismo se abraçou à Biblioteconomia e não havia mais nada a fazer lá. Veio a praga teórica da ”comunicação” que imperou até há pouco tempo, quando as mídias sociais implodiram tudo e fizeram todas as teses sobre o futuro do jornalismo cair por terra. Estamos em plena revolução, no sentido de transformação radical. Na internet, mantenho o jornalismo autoral onde fui criado, pois ainda peguei a época em que as pessoas assinavam seus textos e podiam, dentro dos rigores da metodologia e da técnica, voar no texto e surpreender.
Mas nunca esqueço o tempo em que meu dentista debochava da minha escolha e que muitos bateram na porta de casa para convencer os pais e me internar, pois eu tinha surtado ao deixar a engenharia pelo jornalismo. Foi uma escolha difícil. Não havia estímulo. Mas esse é o momento apropriado para se decidir pelo front apenas com a cara e a coragem.
RETORNO - 1. Crônica publicada no jornal Momento de Uruguaiana. 2. Imagem desta edição: obra de Marciano Schmitz.
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