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23 de julho de 2011
DEPOIS DO DILÚVIO
Arthur Rimbaud, de Iluminações
Tradução de: Nei Duclós (*)
Logo que a idéia do dilúvio se aquieta
a lebre se posta pelas flores em febre
e faz sua prece para a aliança celeste
através do véu que a aranha tece
Ó pedras preciosas de veios ocultos
que afloram em forma de pétalas
Armamos a feira na sujeira da rua
Direita, e puxamos os barcos para
alto-mar. Lá ocupam o topo, como
as figuras em gravuras de metal
O sangue de Barba Azul jorra
aos borbotões borrando a serragem
das feras, no chão vermelho de leite
e no branco selo de Deus nas janelas
Os castores se atiçam nas construções
enquanto o café fuma o rum nos butecos
Os pingos nos vidros das mansões
deslumbram as crianças de luto
com imagens nascidas na guerra
A porta bate numa praça remota
onde a infância faz rodízio dos braços,
girando como os galos que brincam
nas torres faiscantes de granizo
Dona Asterisco põe o piano nos Alpes
e milhões celebram a hóstia no abismo
em milhares de altares do Santo Graal
Comunhões nos picos de uma catedral
As caravanas se foram, e o hotel perdido
emerge no caos de gelo e da noite polar
É quando a Lua ouve o uivo dos chacais
e diálogos pastorais no ermo de ervas
Surge então a floresta violeta. E a flor
da Eucaristia avisa a próxima primavera
Ronco surdo na laguna, rolos de espuma
sobre a ponte e a floresta se cobre de espessos
fungos ao som de órgãos e relâmpagos
Os trovões assombram o dilúvio, ciclo
de água e tristeza que inunda tudo
É horrível quando se dissipam as ametistas
que formam galerias. Ou as flores que brotam
Nunca saberemos o segredo guardado a chave
pela Dona dos Feitiços, que acende o carvão
no caldeirão de barro. E, ai de nós, só ela sabe
(*) Toda tradução é livre
RETORNO – Este é o poema original
APRÈS LE DÉLUGE - Rimbaud
Aussitôt que l'idée du Déluge se fut rassise,
Un lièvre s'arrêta dans les sainfoins et les clochettes mouvantes et dit sa prière à l'arc-en-ciel à travers la toile de l'araignée.
Oh ! les pierres précieuses qui se cachaient, − les fleurs qui regardaient déjà.
Dans la grande rue sale les étals se dressèrent, et l'on tira les barques vers la mer étagée là-haut comme sur les gravures.
Le sang coula, chez Barbe-Bleue, − aux abattoirs, − dans les cirques, où le sceau de Dieu blêmit les fenêtres. Le sang et le lait coulèrent.
Les castors bâtirent. Les "mazagrans" fumèrent dans les estaminets.
Dans la grande maison de vitres encore ruisselante les enfants en deuil regardèrent les merveilleuses images.
Une porte claqua, et sur la place du hameau, l'enfant tourna ses bras, compris des girouettes et des coqs des clochers de partout, sous l'éclatante giboulée.
Madame*** établit un piano dans les Alpes. La messe et les premières communions se célébrèrent aux cent mille autels de la cathédrale.
Les caravanes partirent. Et le Splendide-Hôtel fut bâti dans le chaos de glaces et de nuit du pôle.
Depuis lors, la Lune entendit les chacals piaulant par les déserts de thym, − et les églogues en sabots grognant dans le verger. Puis, dans la futaie violette, bourgeonnante, Eucharis me dit que c'était le printemps.
− Sourds, étang, − Écume, roule sur le pont, et par dessus les bois; − draps noirs et orgues, − éclairs et tonnerres − montez et roulez; − Eaux et tristesses, montez et relevez les Déluges.
Car depuis qu'ils se sont dissipés, − oh les pierres précieuses s'enfouissant, et les fleurs ouvertes ! − c'est un ennui ! et la Reine, la Sorcière qui allume sa braise dans le pot de terre, ne voudra jamais nous raconter ce qu'elle sait, et que nous ignorons.
Imagem desta edição: detalhe do arco-íris de Rubens
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