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3 de maio de 2011

JUSTIÇAMENTO EM ATO DE GUERRA


Filmes de espionagem são bem melhores do que a realidade. Nenhum filme iria incorrer no ridículo de colocar o bandido mais procurado do mundo numa casa de muro alto perto de uma guarnição militar. Só poderiam se igualar ao que ocorreu no Paquistão pela natureza da ação, que tanto na ficção quanto na vida real é puro justiçamento, extermínio, vingança, um ato de guerra sob a capa de se fazer justiça. Cinema americano não acredita em justiça comum, só em morticínio como expressão máxima da lei.

Podem existir as razões mais explícitas para justificar o ato, mas daí a dizer que a justiça foi feita vai uma boa distância. A não ser que se consuma o conceito das máfias de matar traidores e adversários como um forma de ter paz. Ou então a chamada guerra santa dos fundamentalistas está agora mais do que justificada. Se a morte de Osama Bin Laden foi justiça, então está tudo liberado, como aliás está desde que os Estados Unidos invadiram o Iraque sem ter motivo nenhum, baseados apenas em relatórios falsos sobre armas de extermínio em massa.

Por esses motivos é que o mundo não ficou mais ou menos seguro com a morte do terrorista. Simplesmente eles deram uma satisfação para o povo, que foi vítima do atentado nas torres gêmeas em 2001, ou seja, os eleitores precisavam de uma demonstração de força convincente, já que a carnificina do Oriente Médio foi desmascarada. Sem ter por onde fugir, com a prisão de Guantanamo fazendo água, pois lá se faz justiçamento por meio da tortura e da prisão de inocentes, como demonstraram alguns documentos do wikileaks, então a saída foi capturar Osama que estava nas fuças de todo mundo. Talvez houvesse um acordo, já que Bin Laden foi uma invenção americana, sócio do petróleo dos Bush, como demonstrou Michael Moore em Fahrenheit 911. E com a chegada da campanha presidencial, fosse necessário fortalecer o candidato natural, que tem prestado bons serviços à indústria financeira e de armas.

Obama foi para a televisão dar explicações aos americanos e o mundo pegou carona. Inclusive a Rede Globo, que chegou tarde no assunto e tentou se apropriar dele, como costuma fazer, editando de maneira trombeteira, com seus correspondentes abrindo largos sorrisos de satisfação e vitória. Osama era um problema pessoal da Rede Globo, pelo que vimos no noticiário. Ficam loucos para fazer História e por isso douram os eventos mais importantes com a fantasia global. Dizer que Osama “até” foi contra os EUA é omitir o principal, de que o terrorista é cria americana para combater os soviéticos. Mas isso não passa no furor global, que passou de A Voz do Dono para o Dono propriamente dito. No fundo, pela cara de felicidade dos jornalistas da rede, a Globo fez o serviço e Obama apenas confirmou.

O babacômetro explode com a nova geração de gringuinhos subindo nos ombros dos trouxas para gritar iu-ésse-ei fechando o punho, como se o assassinato de alguém fosse motivo de celebração, mesmo que todas as evidências apontem (e isso é contestado aqui) para o culpado. Se você é universitário não vai tomar banho pelado no lago porque mataram um sujeito ou colocar o chapeuzinho de vaqueira e gritar o nome do país como se estivesse no final de um campeonato mundial. Ainda mais que não houve vitória, o terrorismo continua e promete vingança. O que precisa acabar é a certeza de superioridade que faz com que invadam um país estrangeiro, matem pessoas e não dêem satisfações. Ainda se ofendem, pois mandaram fechar a embaixada e consulados do Paquistão.

É a velha piada de cantar vitória e se retirar rapidamente. Não venceram o terrorismo, nem mesmo Bin Laden, que virou mártir, mesmo sendo “sepultado” no mar. Ninguém viu o cadáver, não explicam como tinha o DNA do sujeito, jogam para os peixes e partem para outra? Obama mata Osama e garante sua reeleição. Será? Bush poderá reivindicar o crédito e os republicanos vão tirar uma lasca do fato. As eleições poderão surpreender.


RETORNO - Imagem desta edição: a cara sombria de Obama e a de pânico de Hillary mostram bem o clima do justiçamento. A foto já estava nos fóruns da internet antes de ir hoje para a imprensa.

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