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21 de março de 2011
O ESTRAGO OBAMA
Nei Duclós
A máscara do marketing político expresso em citações sob medida e piadinhas prontas esconde, na visita do presidente americano Barack Obama ao Brasil, Chile e El Salvador, a realpolitick do Império. Ou melhor: revela. Pois reproduzir uma frase do Paulo Coelho, falar em jogo do Vasco ou Flamengo no meio de uma palestra, coroando os insights com carinhas interessantes ou gargalhadinhas de deboche, mostra o vazio desse oba-obama cretino que galvanizou a mídia comprada e as celebridades de gênero e raça que pontuaram durante toda a estadia. Um vazio preenchido pelo que realmente interessa: enquadrar o Brasil no esforço de guerra contra países do Oriente Médio e tomar conta do território econômico e político que historicamente “ pertence” aos americanos.
Os EUA se recusam a “perder” o Brasil e seus vizinhos. Por isso Obama nos visitou. Isolou a Argentina, porque lá tem opinião pública, evitou obviamente a Venezuela, declarou guerra à Libia dentro do palácio em Brasília e colocou o Brasil como exemplo de democracia para os árabes. Seu gesto foi muito claro: como fomos plataforma para a declaração de guerra, temos agora a obrigação não apenas de apoiar a carnificina dos bombardeios (que desde o Vietnã está provado que não funcionam) como, eventualmente, mandar soldados para lá. Basta destruir a Líbia e depois mandar soldados multinacionais para fazer o policiamento, como acontece com o Haiti. Tem mais: declarar guerra num país não alinhado com a invasão é mais do que humilhante, é crime político.
Obama causou grande estrago ao colocar o Brasil abaixo da sola do sapato. Alguns importantes ministros de Estado tiveram que se submeter a uma revista completa a cargo dos meganhas americanos, inclusive baixando as calças para provar que não portavam armas. Quem é contra o governo continuista do PT vibrou, mas as atuais autoridades representam o país e não podem ser humilhados dentro ou fora de casa. As mudanças bruscas de agenda, deixando na mão os organizadores da recepção, o domínio absoluto do território por terra ou por ar, a fala de um presidente estrangeiro para o povo brasileiro, tudo isso significa um estrago gigantesco na idéia de nação.
Que exemplo de democracia que podemos dar aos árabes? Fizemos uma transição casuística, consolidando o regime de 1964 por meio de estadistas medíocres, medidas provisórias, política econômica atrelada ao capital especulativo, sucateamento do parque industrial nacional, engessamento político, fraudes eleitorais, marketing milionário, domínio de capitães do mato em currais eleitorais, políticas públicas de compra de voto, entre outras providências. Obama atribuiu a Dilma a redemocratização brasileira. Então tá. Os EUA providenciaram uma ditadura por aqui em 1964, como provam os documentos do Pentágono e o depoimento do embaixador americano no Brasil na época, Lincoln Gordon, e aí a Dilma roubou o cofre do Ademar e fomos redemocratizados. Ara.
O fato é que os EUA não estão preocupados com o povo líbio ou brasileiro, querem apenas negócios. A Líbia tem petróleo e gás, e o Brasil tem tudo. Além disso, nós temos os grandes eventos esportivos para esta década, que movimentam uma grana preta e os americanos não querem ficar de fora, ou seja, pegar apenas uma parte, eles querem a parte do leão, obviamente, e foi isso que Obama também veio dizer.
O que se destacou na visita foi a fraqueza do nosso governo, a figura anódina de quem exerce o cargo maior da nação, a exposição de nossas fraquezas levando o visitante e sua comitiva para ver capoeira e favela, como se fôssemos um paiseco de nada quando ostentamos tantas performances econômicas, que não passam de venda de insumos básicos, já que ninguém quer saber de nossos produtos agregados, com algumas exceções que não pesam na balança comercial.
Quando vier um visitante desses, levem para visitar o Masp, a Fundação Getulio Vargas, as universidades, Curitiba, Belo Horizonte,por aí. Basta de mostrar o Rio. E não deixem que os seguranças apalpem autoridades brasileiras. Pega mal, fica feio. Nem permitam que declarem guerra daqui. Vão bombardear para lá. Não temos nada com isso.
RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.
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