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8 de fevereiro de 2011
CLIMA
Nei Duclós (*)
Dia de verão nasce limpo e entorta conforme vai avançando o noticiário. Uma cidade gigantesca está em guerra, multidões são arrastadas pelas águas, palhaços tomam posse. O céu que era azul torna-se opaco, com claridades estranhas nas bordas de manchas escuras que expulsam os algodões feitos sob medida. Se algum cometa se aventurar por estas paragens será devorado pelo clima que coalhou lá pelas três da tarde e avança penosamente para a noite, carregando carvão usado junto com nossas esperanças.
Moscas adivinham que embalei no trabalho por isso pousam interminavelmente em lugares inacessíveis do corpo, difíceis de alcançar pela expansão imposta pela idade. Conheço gente que só para colocar o protetor solar leva duas horas. Outro confessa que precisa perder 30 quilos para ficar gordo. Amigo me confidencia que não gosta da palavra sedentário. Parece habitante do deserto às voltas com tempestades de areia e longas vestes suadas. São armadilhas do verbo que conspiram contra.
O expediente da temporada que deveria ser prazeroso vira pedra no sapato. Há uma fila de carros que termina no fundo do mar. Nem dez pontes resolveriam o nó de tanto trânsito. O vento nordeste se encarrega de arrancar o guarda-sol firmemente fincado no chão e levá-lo aos trambolhões até onde uma família numerosa ataca sua terceira refeição à beira-mar. Atletas de início de ano passam consultando relógios. Homens com água pelo peito discutem debêntures. Marmanjos jogam petizes no oceano pelo prazer de exercer a tirania.
Mas não devemos nos entregar ao pessimismo. Quem sabe na manhã seguinte haverá possibilidade de enxergar o a carruagem de Helios evoluindo firmemente para uma tarde sem mácula, daquelas que ficaram na memória. Do tempo em que os extraterrestres ainda não dominavam o clima, nem permitiam que se jogassem metais pesados no ar por meio de fumaças criminosas, num exercício de manipulação das estações. Talvez sintam saudades de seus planetas de origem, em que cirros chegam ao cúmulo do enxofre, e querem reproduzir aqui as paisagens perdidas da infância estelar.
Não temos culpa de habitar um lugar raro, azul de dar dó e que aos poucos se transforma num lugar hostil até na rede da varanda. É quando insetos bizarros atacam em busca de algo que já não possuímos mais.
RETORNO - 1. Imagem desta edição: chemtrails, fumaça artificial provocada por produtos químicos, em Venâncio Aires (RS). 2. (*)Crônica publicada nesta terça-feira, dia 8 de fevereiro de 2011, no caderno Variedades do Diário Catarinense.
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