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7 de outubro de 2010

ROLOS DO PLEBISCITO


Iria acontecer, cedo ou tarde. O amplo espectro de oposição que colocou Serra no segundo turno agora está sendo acossado pelos raposões de sempre. Eles focam de maneira mesquinha no voto dado com generosidade. Se ligam em nichos, como voto “evangélico” ou “privatizações”. Serra foi abandonado pelos caciques do seu partido, que jogaram publicamente a toalha, a começar pelo bobalhão oportunista do FHC, que agora volta com tudo, como se não tivesse apoiado Dilma no primeiro turno. Os mineiros acham que o confronto com o governo é invocar as “realizações” do FHC. Não é.

O voto foi anti-Lula, tanto para o candidato do PSDB quanto para Marina. A população, em sua maioria, se opõe à gang palaciana que usou o PT para empalmar o poder, apesar das pesquisas vendidas e furadas. Se os gaúchos escolhem Tarso, se os paulistas elegem Martha, essas são forças políticas legítimas. Mas o voto dado de carona para Dilma, invenção palaciana, clone do presidente, que a todos traiu, a começar pelos fundadores do seu partido, é espúrio, e merece repúdio. Mas isso tem larga distância do virtual apoio à privataria, às falcatruas da entrega da soberania e do patrimônio público da era FHC.

É uma sinuca de bico. Parece que Serra se entregou aos caciques e vai fazer o confronto de maneira errada. Até que não começou mal, dizendo que o PT também privatizou e, além disso, não reestatizou nada, ou seja, sua campanha anti-privatização é fake. Mas isso não nos leva a achar que deve-se incrementar os pedágios nas estradas, fechar ruas particulares nas metrópoles, como acontece em São Paulo, ou continuar contrariando em tudo o espírito público. Vão chegar às universidades e colégio públicos e aos hospitais e aí tudo vai virar uma enorme mega-empresa, fruto da fusão de interesses hegemônicos dos especuladores que dominam as finanças e a propriedade privada? Não pode.

Par manter o voto anti-Lula, Serra deve manter sua solidão do primeiro turno, quando se viu às voltas com um vice desconhecido, chamado Índio. Nenhum bam bam bam quis queimar seu filme sendo vice de sua chapa. Imaginem um Aécio nesse cargo. Não deve se entregar como um filho da mãe para os jogadores profissionais de toalha. Se continuar fazendo isso, vai perder. Quem avisa bom eleitor é.

Só arranjei encrenca ao me determinar a confrontar o governo no último reduto, o das eleições. Aos poucos migrei para Serra, num voto pelo avesso, sendo cabresteado pela situação. Decepção geral em muitos lugares, mas não posso me resignar a agüentar mais uma gestão com essa súcia no poder. Se acontecer uma vitória da oposição, o que acho provável, pelo menos posso dizer que ajudei, tentei impedir, dentro das minhas extremas limitações. Ma agora no segundo turno fica mais difícil. Se FHC entra na campanha, pifou. Ele que fique com Dilma, já que o governo Lula foi seu continuísmo (basta ver a política econômica).

Apostei que Serra, ao romper com o sociólogo da teoria da dependência, teria chance de transcender e encarnar a indignação nacional. Acho que ainda tem esse cacife. Mas eu me retiro, por enquanto, dessa pregação. Já fiz minha parte. Fiz inimizades à toa, pois não ganho nada com isso, é tudo coisa da minha cachola intranqüila. Não que eu queira a imagem fora da candidatura Serra de volta. Vou votar nele. Mas torço para que vença e faça um governo oposto ao que tivemos até agora nestes últimos 46 anos. Um governo fora dos esquemas da ditadura.

Um governo nascido da sinceridade política, do espírito aberto e livre, da comunhão de princípios universais. E que possa trazer de volta a soberania perdida da nação e um mínimo de paz social e prosperidade real, não essa falsa que temos agora. No fundo, queremos o Brasil de volta. É só isso. É querer demais?

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