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19 de agosto de 2010

O QUE FAÇO COM AS ESFERAS?


Nei Duclós

Tenho dedicado algumas noites no Twitter aos serões de poesia. Escrevo on line poemas de um ou dois versos, seguidos por pessoas que se conectam nessa rede infinita. Aqui, uma seleta dessas sessões poéticas, e alguns tuits sobre política, já que candidato é linguagem e eleitor também é texto.

O que faço com a esferas? perguntou o Criador depois que tudo estava pronto. Invente o horizonte, disse o anjo. O resto vem por si

Faltam as estrelas, soprou o anjo para o Criador orgulhoso de ter inventado o Caos. Vem os poetas de contrapeso, mas vale a pena

Já estive aqui uma vez, disse o senhor de bengala num súbito dèja vu. Não esteve, explicou o anjo. O lugar é que viciou em te visitar

Lá vem a Madrugada, disse a Noite em suas vestes de Mistério. Parece comigo, mas sempre me expulsa com lanternas ocultas

O amor é a única bagagem que não podemos esquecer numa conexão complicada

Você joga poesia a esmo no cosmo cheio de becos? pergunta o amigo. É onde vingam as plantas que alçam os voos mais altos, disse o poeta

A poesia surpreende até a pena que pensa inventá-la

Por falta de papel e caneta perdia poemas, que pulavam para fora do seu bolso nas viagens. Ficava o esquecimento, como um sino ao longe

Na véspera do amor, há sempre uma bacia de água pura tremendo de frio no meio do quintal, banhando de alegria os futuros amantes

A Lua Cheia sujava o dorso rolando no deserto. Pode voltar, disse Quixote para Sancho. Encontrei finalmente a Dulcinéia.

Já estivemos aqui em outras vidas. Éramos criaturas insolúveis a olhar com desconforto o futuro se aproximando como um exército

A vida é um dia de mudança, quando carregamos nossos móveis para lugares afastados onde não há casas

Agora que tudo cai na vala comum da madrugada, é hora de abrigar os sonhos que tivemos e que se esgueiram nos becos como suspeitos

Quando os poetas passeiam no parque, os pássaros se agitam e pulam para as árvores mais próximas, onde arrulham vogais de poemas possíveis

Perto da meia noite, ele desistiu de convencer o Tempo a dar-lhe razão e entregou-se ao som de sino que bate insistente no bronze da Lua

Chegamos cedo demais ao navio que partirá de madrugada e ficamos com os pacotes no chão olhando a água suja do cais a afogar mariposas

Quando ninguém está olhando, o poeta amarra os tênis debaixo das estrelas

Quando pequeno, sentado no banco de trás do carro, eu sabia que a estrada acabaria na primeira curva e levaria a família para o abismo

Os poetas fazem biscates ao longo da vida para escapar do destino de morrer em cada palavra que salta do ombros dos anjos para a sarjeta

Os poemas são moedinhas de cinco centavos que ninguém faz questão de ter e que se acumulam, inúteis, no lado sem bolso do coração

A poesia bate, suave, como um tambor de veludo, na noite infinita

As redes sociais serão bairros abandonados no futuro, habitados por cães vadios, nossos tuits, a farejar algo escondido para sempre


UM POUCO DE POLÍTICA


Ganho followers à noite, com poesia, e perco de manhã, com política.

A aliança anti-empreendedora entre os sistemas financeiro e tributário alimenta as gangs do estamento político e a ilusão da pseudorebeldia

O uso político e a vilanização do sistema produtivo são sintomas graves de doença social e econômica de um país de escravos

Pelo menos a cara de pau deveria ser menos intensa nesta campanha, depois de tantas denúncias e escândalos. Mas parece que piorou

Políticos não deveriam falar em setor produtivo. Não obedecem nem aos principios tradicionais do livro caixa (receita e despesa)

Quando um empreendedor consegue gerar um emprego, o político vai para a TV dizer que o governo dele foi o responsável

Por que os políticos usam o setor produtivo como argumento, se as empresas crescem à revelia dos políticos?

Nem tudo o que é antigo é ultrapassado e nem tudo o que é de hoje é novidade. Chovo no molhado, mas é preciso dizer

Algumas campanhas de comportamento correto sugerem um clima de recente descoberta da pólvora, como se tudo fosse obra do presente

Falam em diversidade cultural e diálogo intercultural como grande novidade. Blues, Jazz, samba, artes ancestrais, seriam o que?

Um problema não deixa de ser pessoal só porque "acontece com todo mundo"
.
Os candidatos representam forças políticas em disputa pelo butim e não a favor da nação

Zero para todos os candidatos. Quando passar as eleições vai cair a ficha sobre a insânia dos votos dados a esses tipos

O voto indeciso é o mais decidido: nenhum de vós

A fome é capitalista. Somos revolucionários depois das refeições

Como é bom saber que está acessível uma série de recursos para melhorar nossa performance na web e nem sequer clicar no link. Deixar para lá

Uma boa biblioteca atualizada é uma espécie de Bienal do Livro sem atrações de circo

Proposta casa com Projeto. Nasce Prospecto


E FALANDO EM FUTEBOL

Colorado é marca de nascença que pulsa em dias de grandes tempestades.

O microconto também entrou em campo. Mas foi atrapalhado pelos quero-queros

RETORNO - Imagem desta edição: obra de Ricky Bols.

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