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19 de julho de 2010

QUAL EDUCAÇÃO?


O rolo é grande e aparentemente irreversível. Estudiosos ficam surpresos que, nesta época de “democratização” educacional, a violência nas escolas tenha se disseminado tanto a ponto de existir uma alunocracia, em que os professores são vítimas de crianças e adolescentes tiranos. Para mim, o motivo é óbvio, mas o problema é argumentar num ambiente político e social contaminado como o nosso. Hoje, tudo o que não é petista é tucano e vice-versa, e tudo o que não for dito em tom fanho e professoral é amadorismo.

Vamos pegar no osso. Nascemos zerados. Não existe DNA cultural, por exemplo, nem o Bom Selvagem. Ou seja, a capacidade de tocar cavaquinho e cantar pagode não está na cadeia do ácido desoxiribonucleico. E se os nativos nus da Polinésia eram amistosos não significa que o DNA deles tivesse essa informação química da bondade nata. Simplesmente havia um sistema cultural que os apresentava assim. Cultura, ensinam os mestres, é o conjunto de hábitos voltados para a sobrevivência. Alguns elementos são universais, como o tabu do incesto, a troca de informações e a relação com as mulheres, ou seja, a procriação. O resto é pura diversidade.

É simples. Se o garoto pobre do Brasil é levado com um ano de idade para a Itália ou Suíça ele não vai pedalar que nem o Robinho, ele vai esquiar em Aspen. E se o italianinho for criado no Brasil e tiver capacidades natas para desenvolver seu talento para o futebol, vai fazer a Europa se curvar novamente para o Brasil. Existe a vocação e o talento, mas não o fator determinante da cultura local impregnado na cadeia biológica. Parece bizarro ter de dizer isso, mas é que o equívoco tem levado à alunocracia.

Acredita-se que se o aluno for empoderado para ser livre e fazer o que quiser, ele naturalmente, como bom selvagem que é, irá manifestar suas capacidades inatas que traz no tal DNA cultural, que seria a soma de experiências do ambiente social fazendo parte da cadeia ´genética. Não é assim, como sabemos. Pertencemos ao mundo animal e fomos formatados assim por milhões de anos. Não seriam décadas de PC (Politicamente Correto) que iriam mudar isso. A formação proporcionada pelo ambiente é que nos transforma em seres culturais. E o papel do professor, ungido pela autoridade pessoal e do saber (ele ensina a aprender) é fundamental. Senão todos ficam reféns da algazarra.

O problema é que fomos sucateados com a chamada Reforma da Educação do golpe de 1964, acrescida de outras modificações ao longo dos anos, que acabaram com a educação clássica, aquela que tinha vindo do Império e se modificado para melhor na época do Brasil soberano (1930-1964) graças a grandes educadores. Na minha infância e adolescência, peguei um sistema tradicional, mas sem palmatória ou cascudo. É preciso instrumentar a criança para que ela possa ter acesso ao básico. Assim poderá ser livre. Se for deixada em estado bruto analfabeto, porque temos adultos irresponsáveis, ficará prisioneira da ignorância e da soberba.

Por isso proponho aos candidatos, envolvidos na perda de tempo descobrindo, ó supresa!, como a educação é importante, que lutem por uma política econômica que não destrua o país ou tungue sua população. Assim, poderemos voltar a ter uma educação eficiente. Não fiquem, portanto, sugerindo a Educação como panacéia. A continuar do jeito que estamos agora, à mercê da pirataria especulativa internacional e da corrupção interna e externa, as escolas continuarão, em sua maioria, um lixo. Não adianta posar de educador.E a culpa não é porque temos uma política neoliberal num estado ou mimamos a rede pública de professores em outro. É porque vivemos num país escravo e não importa o partido se isso não for mudado

Com uma política econômica voltada para o país e sua população, quero a volta do Pré como alfabetização pelo método silábico, o Primário como ensino da leitura e escrita e das quatro operações, o Ginásio para o estudo de línguas e dos fundamentos das ciências, o Científico para o aprofundamento das exatas e biológicas e o Clássico para o aprofundamento das humanas. Assim não teremos analfabetos no ensino médio, nem burros titulados no final da universidade, como acontece hoje, aos montes.Assim, academia não será apenas a de ginástica ou ginásio uma palavra ligada a um só significado, o lugar onde jogam bola.

A grande confusão é que nos últimos anos, com o projeto Genoma e também a descoberta de regiões do cérebro que comandam emoções, ficou parecendo que a vivência faz parte do DNA. Não faz. A cultura é exógena. O que é endógeno são as capacidades inatas, bem diferente. É um equívoco idêntico ao do início do Darwinismo. Começaram a medir cabeças para constatar a evolução humana, quando Darwin tinha falado outra coisa. O evolucionismo não provava a sofisticação européia superior aos nativos de outros continentes. Com Malinovski, ficou provado que na Polinésia existe um sistema cultural tão sofisticado quanto ao da Inglaterra. Da mesma forma, a genética não comprova que a alegria nasce com o brasileiro ou a seriedade com o suíço. É o entorno que faz todo o serviço.


RETORNO - Imagem desta edição: pintura de Fulvio Penachi, de 1955.

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