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13 de julho de 2010
BIZARRICES
Nei Duclós (*)
Vivemos no mundo bizarro. Um polvo que aponta futuros vencedores de futebol ganhou fama e prestígio. O megaídolo do rock se transformou, de uma hora para outra, em anjo mau da falta de sorte. Corpos são esquartejados depois de assassinatos em carros de luxo. A idade da inocência faz pós-graduação em ruindade. Leis viram letra morta. O voluntarismo impera, de chicote na mão.
Prudência agora é pecado. Solidariedade, insumo publicitário. Militantes das campanhas eleitorais se engalfinham para decidir quem “tomará posse”, expressão que só existe no Brasil para cargo público. A fé move patranhas. O analfabetismo ganhou o púlpito. Aprova-se por decreto. Ninguém pode entrar numa avenida na vaga deixada pelo passar incessante de carros, pois quem já vinha trafegando se sente no direito de dirigir perigosamente para cima do invasivo e jogá-lo no acostamento, de onde jamais deveria ter saído.
Todos estão sob suspeita. No momento em que o olho branco coletivo é jogado para cima de uma vítima, não há mais volta. Olho branco, aquela condenação muda e prévia que se expressa num cerco absurdo à pessoa escolhida, não reverte. A tecnologia da informação alimenta fogueiras medievais. A crítica deu lugar ao achincalhe. O insight ao plágio. O amor foi abafado numa colcha imunda de boas intenções abraçada aos mais torpes interesses. A loucura ronda as casas e entra pela sala.
Estamos de mãos amarradas. Bandidos escolhem o alvo e ninguém pode impedir. As boas obras se diluem numa rede de retrocessos, intrigas, indiferença. O país está às moscas, mas os arautos do bem pagam os tubos, com dinheiro alheio, para dizer que estamos crescendo e o mundo se espanta diante de tamanha performance . Os governantes julgam que os estrangeiros são tão submissos quanto nós. O que acontece é que os adventícios adoram as riquezas que distribuímos generosamente, principalmente os juros que pagamos por papel pintado especulativo.
Então eles batem amigavelmente nas nossas costas e dizem que querem conhecer as mulheres brasileiras. Como há excesso de xingamentos, ficamos sem jeito de dizer para esses interessados que, quando vieram, providenciem a própria mãe na bagagem. Mas somos um país família. Não podemos nos entregar ao mundo bizarro. Pega mal.
RETORNO - 1.(*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 13 de julho de 2010, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem desta edição: tirei daqui.
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