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5 de março de 2010
OS PIRATAS USAM MÁSCARA
De que é feito um refrigerante? De água, naturalmente. Onde está a água? Nas florestas! O que é preciso para garantir a água consumida na produção do xarope, que é na base de 2,21 litros para cada litro de Coca-Cola, por exemplo? Tomar posse das regiões onde ela existe e intervir no entorno dos reservatórios, para não haver desperdício do recurso. Mas isso pode gerar controvérsia. O que faz o marketing? Coloca a máscara no monstro, para sugerir uma identidade de falso heroismo. Entra de sola no tal mercado de créditos de carbono e promove a celebração étnica, para provar que a corporação luta a favor dos direitos dos povos da floresta, que são os negros, segundo o paradigma triunfante das histórias do Fantasma (imagem acima).
O que é o mercado de créditos de carbono? É uma negociata internacional que começou a ser formatada na Eco-92 do Rio de Janeiro e que basicamente diz o seguinte: cada tonelada de emissão de CO2, a que em tese causaria o aquecimento global, culpado de todas as barbaridades climáticas da terra, equivale a um crédito. Se você polui, e uma fábrica de refrigerante polui, e a indústria petroleira idem, então você tem que ser multado. Mais barato do que a multa é comprar créditos de carbono, que em tese vai financiar a recuperação do meio ambiente danificado pelas indústrias. Trata-se de um desplante total: você paga para poluir. Mas há um problema na raiz desse troço.
Quando piratearam os e-mails de cientistas, descobriram que eles manipulavam os dados climáticos para provar o aquecimento global e assim justificar a tonelada de negociatas que está se fazendo em nome da teoria. Como provou Thomas Kuhn no seu clássico sobre as revoluções científicas, só com a morte de quem fez carreira com o paradigma haverá a aceitação das mudanças dos conceitos. Hoje estamos em plena maré alta do dinheiro arrecadado pelo aquecimento e toda insurgência fica parecendo apoio à poluição. Vejam a sacanagem. Os caras poluem, assaltam as fontes dos insumos básicos via programas especiais e ainda xingam quem denuncia.
Vejam o caso do “Programa Água das Florestas Tropicais Brasileiras”, da Coca-cola. O álibi é “promover a recuperação de bacias hidrográficas através do reflorestamento de matas ciliares”, numa base de 3 mil ha, com investimento R$ 27 milhões até 2011. A fase inicial está sendo realizada na Serra do Japi, Alto Tietê, estado de São Paulo.
“O programa foi desenhado seguindo as regras do Protocolo de Kyoto para ser elegível ao mercado de carbono, que contempla a recuperação de áreas de florestas devastadas. Com isto, o Água das Florestas já nasce com uma possibilidade adicional de recursos para a sua sustentabilidade. Para tanto, a implantação do programa foi precedida por fases de estudo, pesquisa e planejamento, incluindo análises físico-químicas da água dos rios, realizadas pela consultoria Plant Inteligência Ambiental. Para desenhar e planejar o programa, a empresa identificou as necessidades da região e a disponibilidade de recursos materiais e técnicos para a sua realização. A Plant também foi contratada pelo Instituto Coca-Cola Brasil para efetuar os plantios e fazer seu acompanhamento, com apoio conjunto de instituições de pesquisa e universidades.”
O programa conta com o patrocínio também da Coca-Cola FEMSA (que é a porção latino-americana da The Coca Cola Company), fabricante autorizado na região de São Paulo e Mato Grosso do Sul. A maior fábrica de Coca-Cola em capacidade de produção no mundo está sediada no município de Jundiaí, em região próxima à Serra do Japi, e pertence à FEMSA.
Pois muito bem. Agora vejam essa outra notícia. A água da Amazônia está sendo roubada por ações de biopirataria. Navios estão silenciosamente levando a água embora, ou nos seus tanques ou em grandes sacos que são arrastados pelo mar afora, para ser engarrafado e vendido na Europa e no Oriente Médio.
“Estima-se que o retorno de cada tanque com aproximadamente 5 milhões de litros de água do rio Amazonas. Para as empresas de engarrafamento, é consideravelmente menos dispendioso para tratar a água doce do que para consegui-lo através da dessalinização. O jornalista Erick Von Farfan foi um dos primeiros a apontar a exploração contínua de água da Amazônia. Ele diz que os cientistas e as autoridades brasileiras foram informadas de que navios petroleiros estão reabastecendo seus reservatórios no Rio Amazonas antes de sair das águas nacionais, de acordo com EcoAgencia, mas faltava a "queixa formal" necessária para solicitar qualquer ação.”
“Farfan salienta que a hidro-pirataria tem ligações diretas com empresas multinacionais”. O que uma coisa tem a ver com outra? Sei lá. O que vocês acham? Procuro entender a visita de Hillary Clinton à clareira étnica em São Paulo, patrocinada pela Coca-Cola, a embaixada americana e o sistema financeiro, um nicho político que substitui algo muito perigoso: a noção de identidade nacional, de nação soberana. Floresta é terra de ninguém, pode ser apropriada pelos espertalhões. País é mais complicado. Contraria a idéia de que existe um só império com acesso a tudo, cercado pelo Resto do Mundo.
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