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30 de março de 2010
O JN E A DITADURA QUE GANHA O MUNDO
O Jornal Nacional, da Rede Globo, não mudou o jornalismo, ajudou a matá-lo. Concebido logo depois do AI-5, em 1969, obedeceu ao formato americano por obra de Walter Clark, o executivo da publicidade festejado como gênio, mas o conteúdo precisava de um ajuste, adaptado às necessidades da ditadura. Foi aí que entrou Armando Nogueira, prestigiado no jornalismo impresso, hegemônico, na época, na comunicação de massa, e excelente cronista. Falecido recentemente, Nogueira está sendo lembrado como o grande artífice do JN, quando a obra deve ser creditada a Clark e a José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, que no JN de ontem tentou tirar da reta atribuindo toda a responsabilidade do jornal sacana ao editor chefe.
Foi assim que se consolidou entre nós a imposição oficial das versões por meio de recursos técnicos (equipamentos e rede de transmissão, movidos a muito dinheiro) e ideológicos (o sucateamento da oposição ao regime, o que levou à divisão bipolar MDB/Arena, atualizada no tucano-petismo, que depende totalmente do poder do JN para governar).
Não por acaso o primeiro ato de Lula quando eleito pela primeira vez foi comparecer ao JN, obedecer ao William Bonner e servir de âncora para o noticiário global (aquele do “horário nobre”, ou seja, elitista), numa cena premonitória do que estava por vir, por mais que não acreditássemos. É fundamental recordar também que Armando Nogueira participou como protagonista do evento sinistro da manipulação dos resultados das eleições para o governo do Rio em 1982, quando a totalização dos votos pela Proconsult aparecia na Globo sem fazer justiça ao candidato vitorioso, Leonel Brizola. Este chamou a imprensa internacional (mais séria há 30 anos) e denunciou a patranha. Nogueira teve de comparecer ao vivo (exigência de Brizola,que não iria permitir manipulação da sua fala) diante do governador já eleito que estava sendo esbulhado nas fuças da nação mergulhada em nova fase de tirania.
Foi uma lavada. Brizola arrasou com um gaguejante Nogueira, que não teve mais condições de insistir na falcatrua. Nos bastidores do JN, lembro quando Jorge Escosteguy, grande jornalista com quem trabalhei mais de uma vez, me contou com detalhes como foi fritado na Globo depois de transformar a sucursal paulista do JN numa unidade de jornalismo da pesada. Foi fritado pelo silêncio e a lenta demissão, levando-o a uma situação desesperadora. Nunca é demais repetir que a Globo ajudou a esconder as gigantescas manifestações das Diretas Já, o que é público e notório. Mas não vou insistir no que todo mundo sabe, apesar de ficar escandalizado que ninguém se manifeste quando começam de novo a transformar o JN num fato histórico a favor da democracia, que até, veja bem, teria lutado (ah ah ah) contra os anos de chumbo. A Globo é a era de chumbo, ponto.
O que pega é o jornalismo rastaquera que tomou conta do mundo. Le Monde, que nunca fez algo aparecido, elege Lula o Homem do ano. Pois bem, sabemos que o Le Monde foi comprado pela industria de armas, não por acaso cliente do governo brasileiro. Os franceses nos vendem armas (agora são os caríssimos helicópteros) desde a época da Missão Francesa, nos anos 20 do século passado. O Wal Street Journal, por sua vez, usou o velho expediente de bater para depois cobrar a conta. Há uma semana, fez matéria sobre o excesso de corrupção no Brasil. Dias atrás, fez outra, sobre esse fenômeno que é o Brasil onde, pasmem, a corrupção é relativamente baixa comparada com outros gigantes. Os jornalões viraram jornalecos de meia pataca.
Para substituir o magnífico jornalismo impresso que tínhamos até os anos 60, por uma falcatrua metida a besta e vazia como Jornal Nacional, foi preciso fazer o serviço completo, ou seja, destruir a alfabetização e a formação escolar, bases de uma opinião pública lúcida e atuante. Mandaram para as calendas cartilhas eficientes, como a Caminho Suave, que alfabetizou mais de 40 milhões de brasileiros e colocaram no seu lugar o analfabetismo puro e simples. Como era impossível, no sistema tradicional, passar de ano sem saber ler, inventaram a aprovação por decreto. Assim está feito o público para consumir JN, em que o parâmetro, segundo o próprio Bonner, é o Homer Simpson, o idiota da série americana.
A verdade é que o grande sucesso do Brasil foi transformar um regime sinistro numa ditadura consentida com vestes de democracia. Com a crise mundial, em que os jornalões mais notórios perdem leitores e faturamento, está tudo sendo loteado e comprado. A ditadura brasileira faz a festa, como provam alguns artigos pesquisados pela equipe do Diário da Fonte. Leiam aqui e aqui. Mesmo no Translate Google, fica legível. Dá trabalho, mas não muito. É de explodir os gargomilhos. Simplesmente estamos cacifando a pirataria internacional com o aval do Banco Central, transformamos os responsáveis pelos milionários fundos de pensão em especuladores que compõem hoje uma nova elite, entre outras mumunhas.
RETORNO – Imagem desta edição: vídeo em que a voz do dono, Cid Moreira, lê uma carta de Leonel Brizola contra a Rede Globo, a mando da Justiça. Em pleno Jornal Nacional. Brizola presente!
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