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20 de janeiro de 2010
A GUERRA DO CLIMA
Nei Duclós
Rola intenso debate sobre a máquina de fazer terremotos. Há documentos oficiais revelando pactos entre países para não usar as armas climáticas. Mas a adesão do presidente Chavez a uma evidência cada vez mais comentada serviu para uma regressão do tema. O fantasma da teoria da conspiração reassumiu no momento em que a idiotia se serviu das informações para pregar ideologia. Ao mesmo tempo, serve de mote para programas jornalísticos.
Volta-se a gargalhar da suspeita de que alguns impérios do Mal estariam jogando tsunamis, borrascas e nevascas em cima de países indefesos. Não importa. O assunto ganha status de preocupação mundial na medida em que os exageros das catástrofes deixam de ter o aspecto natural e assumem a cara sinistra de um projeto militar, que hoje não se confinaria aos Estados Unidos, mas incluiria outros países, como a China (claro).
Como o Google está cheio de ocorrências, não vou elencar argumentos ou motivos. Apenas fazer uma pergunta: por que não inventam a máquina de fazer tempo bom? Não cola a desculpa de que essa era a intenção inicial, a cargo de cidadãos civilizados e que tudo foi desvirtuado por departamentos secretos das forças armadas imperiais.
O objetivo foi sempre derrotar o inimigo, seja ele qual for. Se existe a possibilidade de carregar um cumulus nimbus e fazê-lo despencar no Saara, não seria para semear no deserto, mas para provocar uma boa tempestade de areia sobre os infiéis. Se houvesse coração nos guardiões das bombas magnéticas de última geração, o que não há, a história seria diferente.
Vamos imaginar poderosas antenas reunidas num lugar remoto do Alaska que, em vez de bombardear, emitiria sinais amigáveis para a ionosfera. Teríamos, em vez de Katrinas, uma onda de temperaturas estáveis no nível do paraíso, aí pelos 22 graus.
Seria complicado. Os cientistas do Bem sofreriam de ansiedade, no afã de mostrar serviço e apagar a mancha desta fase sinistra de calamidades planetárias. Sentindo remorso por terem colocado a culpa no aquecimento global, poderiam, sem querer, provocar a primavera nas tundras geladas. Isso deixaria os caçadores coletores ferozes, pois as súbitas flores tomando conta dos arcos e das flechas iriam despertar uma erupção de poetas românticos, para escândalo dos devoradores de renas selvagens. Imprecações e ranger de dentes se levantariam contra a tecnologia no momento em que os novos vates se reunissem para um recital.
Ou então vamos imaginar um magnífico céu azul em plena temporada que deveria ser nublada e abaixo de zero no Hemisfério Norte. Seria o fim do inverno e de Santa Claus. Não haveria clima para uma árvore de Natal gigantesca e digital. Daria praia em Chicago, lugar onde, pelo menos no cinema, nunca fez sol. Manhattan seria a Ilha da Magia, um pedacinho de terra perdido no mar, e ficaria coalhada de argentinos.
A vantagem é que os verões não exibiriam o espetáculo de turistas varridos pela chuva. O aguaceiro ficaria confinado a datas medíocres: o Dia do Selo (a umidade ajudaria o hobby, que depende dela para dissolver a cola) ou o aniversário da milésima eleição do Chavez.
Talvez o truque seja inverter o rumo do riso. No lugar de acharmos graça dos que acreditam em armas climáticas (só o presidente venezuelano continuaria na lista), poderíamos todos rir dos seus técnicos de araque e do que eles fazem dentro de suas calças sujas. Os poderosos que vivem nas ruínas da ética contam com o terror que provocam. Mas tremem diante de quem não acredita que sejam sérios. Essa força coletiva tem chance de desarmá-los de verdade.
RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.
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