Páginas

3 de dezembro de 2009

PORQUE DEVEMOS TER AUTO-ESTIMA


Volta e meio alguém nos esculacha, aqui dentro e no Exterior, engrossando uma avalanche crescente de atentados contra o Brasil e os brasileiros. Essa onda é apoiada por muita gente, pois parece que não temos motivos para a auto-estima. Tudo conspira contra nós: corrupção, miséria, atraso intelectual, violência, burrice etc. Todos esses vícios estão grudados na nossa auto-imagem como superbonder e não como cola-prit. Nos Estados Unidos ou na Alemanha é diferente.

Os americanos tocam o puteiro em todo mundo, derrubam governos, invadem com seus tanques e mariners, bombardeiam criancinhas, torturam, assassinam em massa, jogam explosões nucleares em populações civis, arrasam cidades, despejam napalm nos outros países e são considerados civilizados, adiantados, democráticos e gostosos. Eles inventaram a putaria de massa com o sexo escancarado no show-bizz, mas suas mulheres não tem fama de putas. As americanas são um exemplo de seriedade, dedicação, honestidade e inteligência.

Os Estados Unidos roubaram metade do México, anexaram o Havaí e Porto Rico, invadiram economicamente o Japão e a Europa, fazem pactos sinistros com a Ásia, sugam os recursos mundiais via sistema financeiro da pirataria internacional, poluem como ninguém, mas ganham grandes prêmios da Paz, da Economia e a toda hora estão advertindo, com sua postura ética, quem não rezar por sua cartilha.

Vejam também o caso da Alemanha. É um país de uma raça abnegada, "superior" (cruzes!), trabalhadora, genial, apesar de terem levado ao forno 11 milhões de pessoas e tentado destruir o mundo nos anos 40. Os chineses então nem se fala. São imperiais, majestosos, onipotentes, poderosos e estão presentes em todos os quadrantes do mundo com sua capacidade de fabricar chineses. Invadiram o Japão, o Tibete e quem mais esteve por perto,e não cansa de ameaçar Taiwan. São uma ditadura infernal e não permitem que ninguém se mexa lá dentro, senão leva chumbo. Mas são admirados!

Qual é então o pecado do Brasil? Ter oito milhões e meio de quilômetros quadrados? Mas isso não é defeito, é qualidade. Botamos os holandeses para correr no Nordeste, os franceses no Rio, os hispânicos no sul e no oeste. Ameaçamos os ingleses a bala, não perdemos território para os americanos, derrotamos os portugueses que queriam manter a colonização e, em lances geniais de diplomacia, conquistamos imensos territórios no Norte.

Qual é o pecado do Brasil? Ter acabado com os índios e as matas? Os índios continuam em nós, na nossa ascendência e descendência, na mistureba racial, nas vilas, subúrbios, praias e campos. A mata continua lá, o que não acontece com a selva estrangeira, toda ela desbastada pelo Mal encarnado nos gringos. Eles acabaram com tudo já no século 19. Até hoje temos florestas. Bem poucas, é verdade, mas ainda temos e temos de sobra em relação ao resto do mundo. Há e sempre houve violência contra índios, mas ainda há tribos, há culturas sobreviventes, há presença, mesmo que o Sting ache que Raoni faça parte do planeta e não do Brasil.

Qual é o pecado do Brail, termos mulheres desfrutáveis? Faça um balanço na própria família. Mulheres honestas, por gerações. Uma professora um dia nos disse em classe que as pedagogas brasileiras tinham que se impor lá fora pois, quando sabiam que eram brasileiras, queriam logo passar a mão. O turismo sexual é incentivado pela canalha e suas manifestações, as cantrizes e atrozes que rebolam diante do mundo se oferecendo. Mas eles não nos representam. Temos, sim, mulheres bonitas, porque somos uma civilização avançada e não produzimos tanto canhão como eles. Paulo Francis costumava dizer que as alemãs pararam de bater os calcanhares depois que foram derrotadas na Segunda Guerra. O que é uma injustiça para muitas alemãs.

Corrupção? Lembro sempre o Poderoso Chefão III, de Coppola, em que o mafioso, ao tentar lavar sua fortuna, descobriu que as nações eram dominadas por uma máfia muito mais poderosa do que toda a bandidagem. Só a política oficial de juros, implantada a mando das finanças internacionais, faz mais estragos do que todas as guerras. A corrupção garante o funcionamento do sistema colonizado, como foi acertado no Consenso de Washington nos anos 90. Violência? Disseminada em rede no Brasil, rotina idêntica a dos países invadidos. Não que devemos subestimar nossos problemas, mas não podemos deixar que eles grudem na identidade nacional. Nossas bases são outras e fazem parte de todas as pessoas de bem. Quais são essas pessoas? Olhe-se no espelho e faça um balanço ao redor. Alguém comete crimes nesse círculo?

Assim, quando um puto de merda como Robin Williams fizer piada suja e caluniosa sobre o Brasil, não tenha medo de parecer mau humorado. Não precisamos ser amados, queremos respeito. Queremos que nos admirem pelos nossos feitos e não pelos vícios de uma parte do país. Não somos vira-latas, somos o Rei Pelé, que superou a síndrome do vira-lata, como notou Nelson Rodrigues. O problema é colocar o viralatismo como algo sem solução , o que contraria o pensamento rodrigueano.

Seja mau-humorado, seja herói. Diga como o general gaúcho Bento Manuel que estava seguro sobre os castelhanos, que não se metiam com ele: “Eles respeitam a minha catinga.” O pior crime que podemos cometer é nos arreganhar para os estrangeiros. Temos que fazer cara de sovaco de portuguesa. E, qualquer coisa, descer o laço. Foi sempre assim. É por isso que somos o impávido colosso.

Nós, o povo, somos o Brasil soberano. Lutamos por qualquer palmo deste território cobiçado. É por isso que nos caluniam, porque estão de olho no que temos de melhor. Vamos prestar atenção no que somos de verdade. Esse pendão nos ares que ninguém arranca.

RETORNO - Imagem desta edição: a heroína da Guerra da Independência (1821-1823), a baiana Maria Quitéria, que encheu o rabo dos portugueses de chumbo até eles se mandarem. É o que está precisando o Robin Williams, levar uma descarga por trás para ele parar de falar em strippers brasileiras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário