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14 de dezembro de 2009

OS INVASIVOS


Eles estão por toda parte. Transformaram o Brasil numa tortura. Vamos identificá-los, quem sabe esse é o primeiro passo para a gente um dia neutralizar essas pragas.

DJs DE SERTANOJOS - Toda música no último volume é uma merda. A preferida, claro, é a dos gritões, Rick e Ruck, Cagãozinho e Chiruru, Zezé di Bundão e Porrano e por aí vai, todos preferidos dessa bagacerada que tomou conta dos governos, da mídia, e dos bairros. Você tenta ler um livro e o sujeito invade. Se acham programadores do ouvido alheio.

ARRASTADORES DE FERROS – A serra elétrica é a vida espiritual dos brutos. Prisioneiros da Idade das Grandes Caldeiras, eles retinem nos horizontes seu malhar incessante sobre coisas, como se estivessem forjando um puxado para o Inferno. Nenhuma migalha de pensamento medra diante do cerco da atividade desses canalhas.

SOCADORES DE SOLOS – É um mistério. Por que eles batem tão profundamente no chão com seus pilões de granito, como se a terra fosse culpada de todos os males? Por que precisam fazer tremer os alicerces da vizinhança, nos horários mais impróprios?

ANUNCIADORES DO APOCALIPSE - Munidos de poderosos sistemas volantes de som, eles escolhem tua rua para anunciar tudo que é quinquilharia, te convocando não só para as compras, mas para a salvação, basta que você vá ao evento do pastor Brontossauro Rex, que traz a boa nova em que o mundo inteiro vai virar um enorme templo de fundamentalistas analfas.

OS AVON DE JESUS - Eles batem na sua porta todo santo domingo propondo uma leitura. O jornaleco Respira Senão Tu Morre, ou o folheto Vão Todos Morrer de Caganeira. Para se entregar a esse destino manifesto, deixe-os entrar e fiquem horas escutando suas arengas. Depois, não vá cortar os pulsos.

DEDINHOS ADVERTINTES - Eles são o paradigma da virtude, modelos do sanguibom, superiores raciais e se dedicam a consertar a vida e o mundo torto das sub-raças. Gostam muito de dizer “o brasileiro” e adoram corrigir crianças alheias, para, desde cedo, inocular o ódio à liberdade.

AVATARES DO TRABAIO – Trabaiá é fazê baruio. O sujeito caminha apressadinho e grita para quem estiver ao redor que está trabaiando. Todo vagabundo adora jogar para cima dos outros a grande canga do trabalho compulsivo e obrigatório. Assim, se livra das responsabilidades e dedica seu tempo a derrubar quem estiver na frente para poder se manter à tona. Adora dizer: ”Tô na correria”.

GRITALHÕES MONOCÓRDIOS – Você acorda e eles já estão a postos. Ficam assim até de madrugada. Não dormem nunca. Tem assunto para quilômetros de tempo. Não param de falar nem um milésimo de segundo. Assim entopem as mentes alheias dividindo sua própria infelicidade, vendida como estar de bem com a vida. Deveriam ser confinados em ambientes sem condições de propagar o som de suas vozes.

OS BEM INTENCIONADOS - Eles dão beijos no coração e querem que você fique com Deus. Também acham que você precisa deixar de ser tão pessimista. Dedicam-se a disseminar a boa nova ao gentio, que são todos os outros, menos eles. Ungidos pelo destino, usam batas brancas imaginárias e distribuem bênçãos guardados no bolso do colete.

ANALISTAS DO ÓBVIO - Dominam os espaços da mídia. Aparecem fazendo gestos irônicos e caras cínicas diante da tua incompetência de lidar com um mundo tão complexo, que eles cuidam de decifrar com falas rotas e textos mancos. Adoram dizer “é a economia, estúpido” só para poderem te chamar de estúpido.

OS QUE CAPOTAM - Tomam todas, varrem calçadas com seus carrões atropelando mulheres, crianças e velhos, geram deficientes físicos e depois dizem que estavam de cabeça fraca. A falta de laço quando aprontaram pela primeira vez, o estudo baseado na perversidade do mercado onde o aluno é cliente e o professor, banana, além da situação geral do país criam esses monstros num ritmo de fábrica de parafusos.

RETORNO - Imagem desta edição: Máscaras, tirei daqui.

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