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27 de novembro de 2009

A REALIDADE VISTA PELO AVESSO


Não costumo me atualizar sobre política, pois acredito que tudo vai num tranco só, sem mudar nada. O que me deixa a par do que realmente acontece é a propaganda institucional, tanto do governo quanto dos partidos. É verdade, a desfaçatez é tão grande que eles acabam entregando tudo. Ontem, por exemplo, vi uns trechos do programa do PMDB. É um assombro. Fico sabendo que a soberania nacional está a cargo do PMDB. Claro, se o Nelson Jobim é o Ministro da Defesa, faz sentido. Forças Armadas nem são citadas como protagonistas, já que ocupam lugar subalterno no enfoque adotado pelo partidaço (o partido que deixa o Brasil aos pedaços). Ou seja, ficamos sabendo como as Forças Armadas são tratadas.

Também notei tardiamente que o maior volume de verbas dos ministérios está nas mãos do PMDB. A Previdência, Minas e Energia, a Saúde, é tudo com eles. Assim o PT governa de um lado, deixando uma grande parte do butim na mão da turma. Lá está o ministro do Apagão com gestos de catequista incurável enquanto na Folha, Palméria Doria, ao comentar seu best-seller Honoráveis Bandidos, da Geração Editorial, coloca o dito na lista da “gente da pesada” da turma do presidente do Congresso. No mesmo dia em que o sujeito é denunciado, ele aparece como o grande desenvolvimentista, o ministro dos traques de Tupã no ermo.

As notícias da desfaçatez são generosas. Em Santa Catarina, anunciam mais “36 leitos” nos Hospitais, parece que são uns 15% do que vai ser distribuído no resto do país. Ora, meia dúzia de “leitos”. É preciso mais mil hospitais, mais um milhão de leitos. Basta pegar o dinheiro gasto pelo Lulinha e sua turma num avião da FAB (quanta cara-de-pau!) e jogar na saúde. O que pensam os militares que tiveram de ir para o fundo avião para a tchurma assumir seus lugares? O que pensam os militares, no uso legítimo do serviço, terem de voltar abruptamente dez minutos antes de aterrisar em Brasília, para São Paulo, para pegar o filho do cara-de-pau mor? O que pensam os militares?

O que pensar sobre a corja internacional que o Brasil está reunindo, do fraudador do irã ao decano ditador Kadhafi, de Chavez a Zelaya, contrariando o bom senso e a paz mundial, pois só o Brasil incentiva um louco a usar energia nuclear? O que pensar de uma política exterior que não vai reconhecer as legítimas eleições de Honduras e que mantém numa falsa embaixada (já que não temos representante lá) um sujeito perigoso que tentou dar um golpe via plebiscito? O que pensar desse pesadelo que atrai para cá os piores elementos e tira todo o cacife que acumulamos em séculos de vida e luta, pois temos um território gigantesco reconhecido por todos (por enquanto) graças à coragem e à credibilidade de nossos antepessados, um patrimônio que está sendo esbagaçado pelo atual estágio da ditadura brasileira?

Outro sintoma da defaçatez é a pose de estadista do FHC, que ressurge maquiado de seu personagem favorito, o grande estadista culto que livrou o Brasil da inflação. FHC entregou o país, sucateou o patrimônio da nação, "deu" o que tínhamos de melhor (da Vale para cima), foi beneficiado por uma operação financeira pesada para se reeleger, conforme denuncia de Greg Palast, do The Guardian, num livro que jamais foi comentado na grande imprensa A melhor democracia que o dinheiro pode comprar (só a Cartacapital deu destaque). FHC se apresenta também com o maridão carinhoso que tinha a socióloga ao seu lado, o cara que era “o acompanhante de Ruth”, quando se sabe que a frase “sou apenas o acompanhante de Jackie em Paris” é do John Kennedy. Ambos maridões exemplares, como todo mundo sabe.

Na era dos softwares que tornam toda fuça murcha numa pele de pêssego, em que biografias são maquiadas para a próxima eleição, em que a falta de escrúpulos na política é considerada paradigma, em que temos a opção de votar entre o safado e o sem-vergonha, em que as pessoas morrem na fila do SUS por falta de “leito”, em que qualquer vento ou chuva derruba as casas como se fôssemos os clones daquele porquinho da fábula que tinha sua moradia soprada pelo Lobo Mau, em que, no maior desplante os pré-candidatos se apresentam com a mesma cara lavada falando em educação, saúde e geração de emprego e renda, em que estamos por aqui desses crápulas, precisamos ficar firmes e não nos deixar abater pela desesperança.

Só para encher o saco, vamos ter esperança. Não essa esperança que custa milhões de dinheiro público nas propagandas. Não neles ou no que eles possam fazer de diferente, porque não vão fazer. Mas em nós, os eternos cidadãos despossuídos do Tempo instável. Como dizia o general Giap sobre o Vietnã, “ganha a guerra quem agüenta mais cinco minutos”.

RETORNO – Imagem desta edição: tirei daqui.

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