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23 de outubro de 2009

TATIBITATI MATA IMPRENSA


Título, olho, linha fina, intertítulo, legenda, chamada de capa, lead: todos os recursos de uma notícia sobre o mesmo assunto não podem repetir exaustivamente as mesmas palavras e dados. Estes precisam ser apurados com competência e distribuídos criativamente para que o leitor tenha acesso imediato a algo mais do que disse a manchete.

É preciso levar em conta o potencial informativo de cada destaque. Uma foto tem muita informação e a legenda não pode ser redundante. Isso, claro, contraria os manuais, que obrigam os jornalistas a fazer o que o Macaco Simão chamou de legenda para cego. A imagem mostra o homem dando água para a criança. Legenda: homem dá água para a criança. Isso mata a imprensa.

A verdade é que a imprensa, em sua maioria, reproduz o que diz a assessoria e isso serve para tudo. Quadrilha assalta banco em Madureira, diz o título. Elementos de uma quadrilham assaltam banco no bairro de Madureira, diz a linha fina. E aí a matéria começa: Uma quadrilha assaltou ontem um banco em Madureira...Legenda: O banco de Madureira que foi assaltado. Quem tem saco para esse troço?

Outra coisa repetitiva são as suítes. Essas foram inventadas para situar o leitor na notícia que foi veiculado originalmente nos dias anteriores. Quando há uma novidade, você informa e dá uma suíte do que passou. Mas esse recurso, pelo excesso, se transformou num pesadelo. Por exemplo: dois ladrões que fazem parte da quadrilha que assaltou ontem em Madureira continuam foragidos. O delegado disse que o assalto ao Banco em Madureira foi realizado pelos dois bandidos. Ontem, a quadrilha assaltou o banco em...e por aí vai.

Isso acontece porque as redações são editadas por gente que não é do ramo. São paraquedistas titulados ou não que estão convencidos que só assim pode ser feito jornalismo. A desculpa é que tudo precisa ser mastigadinho para o idiota do leitor, enquanto este está mergulhando na imprensa internacional, traduzindo automaticamente as notícias e se inteirando dos fatos inclusive do Brasil. Os imbecis não tomaram o poder no resto do mundo, só no Brasil. Somos governados por idiotas e esse baixo nível mental se espalha por toda a rede profissional e social.

A culpa seria do povo que não lê e que prefere apenas consumir besteiras. Um, é mentira. Dois, você não pode nivelar por baixo, isso é crime. Nivele por cima que todo mundo chega lá. Se não fizer isso, haverá migração para outras mídias. A imprensa pátria fica no tatibitati da notícia, na celebração do evento, no colunismo pífio, com textos sempre iguais, enfoques sempre os mesmos, expedientes repetidos até a exaustão. Digo isso porque não consigo ler o noticiário on-line dos jornalões do eixo Rio-São Paulo. Não há o que ler. É terra arrasada.

Na internet, o que vemos é o aparelhamento crescente da notícia. Ou isso protege Lula ou isso beneficia os tucanos. Há uma obsessão maldita pelo tucano-petismo, um calo ideológico granítico cevado em décadas de ditadura. Nem com cirurgia passa. O que devemos fazer é passar ao largo dessas certezas, em que tudo deságua no estuário milionário do desvio de verbas públicas. CPI, MST, DEM, PT, PDT: é tudo a mesma choldra. Quando você começa a gostar de determinado articulista, determinado blog, descobre que está aparelhado, a serviço da campanha, enquadrado nos trâmites da disputa do butim. Será possível?

É essa mediocridade política a fonte de todo o tatibitati da imprensa., Uma boa imprensa livre derruba qualquer medíocre do poder. Isso não pode. Temos de aturá-los até o final dos tempos. Eles fazem planos para 2030. Xô, Buuu, Fora. Quero o Brasil de volta.

RETORNO - Imagem desta edição: uma das fotos magníficas da Russia antes da Primeira Grande Guerra, de Sergei Mikhailovich Prokudin-Gorskii. Peguei a dica no Twitter, via @daniduc. É o que vemos na farta colheita da rede, muito longe da mesquinharia da imprensa nativa.

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