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6 de outubro de 2009

EVOCAÇÃO DO CANTO


Nei Duclós

Cansei do twitter, do blog, do e-mail
Cansei do site, profile, up-grade
Cansei do notes, do router, do browse
Cansei do spam, dos groups, dos bites
Cansei do post, dos links, mensagens

Cansei da tela, do arquivo, do mouse
Cansei da rede, do micro, teclado
Cansei da velha e falsa amizade
Que se esfarela nas comunidades
no facebook, no orkut, em bobagens

Quero de volta o mar, devorado pelo inverno
Quero de volta a praia sem a tensão pré-sal
Quero de volta o cinema no verão
Quero a praça, o refrão, a gargalhada
Quero o som visual de todas as aves

Quero a natureza refeita do susto
A flor passageira e turva do cerrado
Terra sem veneno, semente frágil
Quero rios de águas livres e lisas
Caindo, véu da noiva, sobre abismos

Quero te ver outra vez, minha miragem
Com a chance do tempo e sua vontade
Quero acenar do convés, sopro de brasas
Sofreguidão incerta, surpresa de escarpas
Quero me encantar de novo, musa, quimera

Descerra essa violação, afasta essa solidão
Venha me encontrar na última carruagem
Pegue o trem, pilote o avião, pouse em Marte
Retorne com as palavras perdidas no porão
Venha, rouxinol, cante que é tarde

RETORNO - Imagem desta edição: foto de Juliana Duclós.

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