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2 de setembro de 2009
PORQUE MARINA SILVA BENEFICIA LULA
Não, não é teoria da conspiração. Marina Silva beneficia Lula não porque ambos queiram ou porque tudo foi feito nos bastidores para que isso acontecesse. Beneficia porque é evidente, diante dos fatos postos na mesa. O que significa a candidatura Marina Silva? Ela é um imã, atrai voto dos petistas decepcionados, dos evangélicos, dos cristãos em geral, dos ambientalistas. Diante da tragédia petista, um largo espectro desses votos (que compõem uma minoria no cômputo geral) iria para Serra, se não houvesse uma candidatura do peso de Marina. Agora esse acervo fica confinado ao redil da recém saída do PT. Fica tudo em casa.
Serra é o anti-Lula. Perde votos com Marina. Lula perderia esses votos de qualquer maneira. Poderíamos argumentar que a carismática Dilma, com sua simpatia de madrasta de desenho animado, com sua boca túmida de soberba, com sua cabeleira de computação gráfica, poderia até convencer uma parte desse pobre eleitorado triste, apesar de ser uma candidata do governo execrado (talvez ela finja que é da oposição, tudo pode acontecer). Mas vamos deixar de imaginar coisas. O presidente do mensalão e do “nóis vai”, o estadista dos banqueiros, o aliado de Sarney perdeu mesmo esses votos. Só que seria um perigo se eles fossem carreados para o centro ou a direita. É melhor ficar na esquerda mesmo, numa candidata que veio do PCBR do velho Genoino, se converteu ao cristianismo e ficou meia década no governo Lula, cruzando normalmente todas as tormentas, do mensalão ao desmatamento.
Por que ela saiu com tanto prestígio, apesar de ter sido conivente com um governo corrupto por tanto tempo e com uma situação catastrófica da Amazônia cada vez mais insustentável? Porque foi colocada em confronto com o que viria depois dela, aparentemente a liberação de mais desmatamento, mais agronegócio, hidrelétricas e por aí vai. É um truque. Esquece-se o que ela fez de fato (ficou plantada no governo até não poder mais) e coloca-se no lugar o que a percepção coletiva precisa acreditar.
Vejo em Marina o mesmo fenômeno do Collor em 1989, que surgiu fora da raia e acabou tomando conta do centro das atenções. As pessoas se atiram nela como o povo escolhido no deserto colhendo o maná. Há uma espécie de consenso no ar, gestos de C.Q.D, o velho “como queríamos demonstrar”. Parece também o Lula antes de descobrirmos o que ele é de fato. Vi esses gestos de evidência explícita e sem contestação numa cena do Faustão, em que a atriz Christiane Torloni citou Marina e sacudiu os ombros e fez um muxoxo de “Marina, claro”. Ou seja, está se colocando como fato pronto e acabado, politicamete correto. Os artistas que comeram da mão de FHC e Lula agora estão encantados com Marina. Pega bem. É um bom produto.
Sem Marina, Dilma não teria chance nenhuma, pois a avalanche de votos para o centro e a direita iria soterrá-la com cabeleireira e tudo. Com Marina, ela pode sonhar em ir para o segundo turno e talvez até vencer, desde que haja muito medo. O clima está voltando aos tempos do PCC, quando a bandidagem colocou São Paulo contra a parede. Estamos vendo agora com a violência desencadeada na favela de Heliópolis em São Paulo, em que um garota foi assassinada com um tiro numa operação policial, um tiro não se sabe vindo de onde. Já estão voltando os incêndios nos ônibus. Hummmm...
Um clima de terror, tenha sido implantado por qualquer tendência política, sempre beneficia candidatos do governo. Diante do perigo, fica-se ao lado do parâmetro, da repetição, da reiteração, do “melhor ficar como está”. O eleitorado medroso acaba votando no que mais execra, desde que o governo se maquie. Poderiam encontrar uma candidata melhor, a própria Marina, mas esta causa problemas. Dilma é mais flexível. Se disserem para ela declarar que não houve reunião, então ela diz. É uma militante, faz o que mandam .
Qual seria a solução? Candidatos de verdade e não defecções do PT ou elementos da direita ou do centro. Toda vez que chega uma eleição presidencial, onde mais uma vez não teremos candidato trabalhista sério, sinto calafrios. Piedade, monstros, piedade. Escutem o clamor do meu povo. Deixem meu povo seguir em frente! Let my people go!
RETORNO - Falando em Harvard.
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