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4 de setembro de 2009
JORNAL NACIONAL: 40 ANOS DE DITADURA
Há algo sinistro na celebração compulsiva e eufórica dos 40 anos de Jornal Nacional. Parece que comemoram o início de mais um fase de hegemonia, apesar dos sinais evidentes de que aquele esquema, fruto do AI-5 (o JN é de 1969, o A I-5 de dezembro de 1968) poderá ser superado. Talvez brindem à iminência de mais uma onda de censura. Historicamente, a Rede Globo jamais brincou com a concorrência e sempre a feriu de morte. Sua maior adversária hoje não é a Record, que pode ser derrotada ou anulada em parte, já que tem seu furo, a igreja. Sua grande inimiga é a internet, do jeito que está hoje, sem centro nem censura.
Qual o projeto da Globo para a internet? Apenas um site, o g1.com. Tudo se relaciona a esse espaço. O g1 é o Jornal Nacional internético global. Não querem que tenha para ninguém. Por “coincidência”, os congressistas estão assanhados para implantar o AI-5 na rede. A desculpa são as eleições que, todos sabem, é uma festa da “democracia”. Sob o álibi de tornar isonômica a propaganda, eles querem obstruir a liberdade de expressão sobre candidaturas e votos. Regulamentação normal, via lei, contra calúnia e difamação, já existe, mas eles querem mesmo é calar a boca de todo mundo. Para sempre. Já disse aqui que vivemos a fase de ouro da internet. Isso tudo um dia vai acabar. Eles conseguem.
Assim, ficaria apenas a propaganda eleitoral obrigatória e o noticiário, o JN. Pode-se argumentar: mas existe o Jornal da Band, o da Record, que lhe fazem concorrência. Quem mora no miolo das megalópoles brasileiras não entende que tudo se decide no ermo. O sinal da Globo pega hegemonicamente em todo o país, até nos redutos mais remotos. Praticamente não existe sinal aberto das concorrentes em vasta porção do território nacional. Isso pode ser contestado pelas mentiras oficiais, mas é a pura verdade. Mesmo nas grandes cidades, o sinal da Globo se impõe, soberano. O resto é chuvisco e a TV a cabo é ainda minoritária.
A partir dessa imposição, reproduzida ao infinito e trabalhada política e economicamente, o JN enche as burras de dinheiro via publicidade e demais esquemas, para exibir competência técnica, que é apenas a superfície de algo mais profundo, a manipulação da percepção coletiva por meio de um sistema de vasos comunicantes com o poder. O JN surgiu com a Voz do Dono, hoje é o Dono. Ninguém peita o JN, vai para a Sibéria, como disse Brizola ao comentar o documentário “Muito além do jardim Botânico”, que a Record comprou recentemente e que desmascara a líder.
Sem script no teleprompter , William Bonner fala pelos cotovelos no lançamento do seu livro JN – Modo de Fazer. Entre outras coisas, ditas com olhos que arregalam para demonstrar contundência, ele disse que o esquema do JN é o mesmo desde 1969, que é cuidar das notícias do dia, as tais hardnews. Não é verdade. Quando o país explodiu nas Diretas-Já o JN omitiu ou mentiu sobre o grande evento. Hoje posa de democrática. Quando houve tortura, jamais o JN denunciou. Tratava os adversários do regime como terroristas, que era a versão oficial, plenamente encampada pelo “jornal”. Isso nunca foi jornalismo, é simplesmente exercício de poder. Só aparece no JN quem faz parte do esquema. Sarney, quando era presidente do PDS, o partido da ditadura, aparecia todos os dias.
Mas chovo no molhado, todo mundo sabe disso, mas não pode fazer nada, pois a ditadura está consolidada e avança, cada vez com mais censura e ameaças de encarceramento em quem se insurgir. Ter entre seus quadros grandes jornalistas, pessoas competentes que sabem fazer uma reportagem, não livra a cara do JN, que serve há 40 anos a uma ditadura. Se houvesse democracia, a Rede Globo seria a primeira da lista para ter seus esquemas desmontados. Não se trata de fechar, ala Chávez, mas não permitir que exerça seu domínio impunemente.
Desmontar significa também atingir os clones. Pois distribuir quadros formados por ela entre as concorrentes é a grande jogada dessa estratégia de conseguir mais poder e grana. Num esquema mais tosco, o egresso da Globo não consegue repetir seus feitos. A concorrência se faz entre o modelo e sua cópia, com clara vantagem para o modelo.
Pronto, falei bem mal do Jornal Nacional. Assim, me vingo de tantas abobrinhas. William Bonner disse um dia que o público do JN pode ser representado pelo Homer Simpson, o idiota do programa americano de TV. Isso é o que ele pensa sobre você, telespectador. Mas a verdade é que apenas expressa sua própria idiotia. “Obrigado por você ser Ernesto Paglia” é uma delas. Impressionante. Parem com isso.
RETORNO - Vídeo acima: com a leitura, feita pelo Cid Moreira, do Direito de Resposta de Leonel Brizola, comemoro a liberdade de expressão e a luta contra a ditadura.
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